Porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo diz ser “extremamente difícil acreditar” que o Estado Islâmico teria a capacidade de orquestrar um ataque em Moscovo.
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Não basta a sucessiva reivindicação do autoproclamado Estado Islâmico (EI) – repetida desde sexta-feira – para convencer o Kremlin da responsabilidade, pelo menos isolada, da organização jiadista no maior atentado em território russo dos últimos 20 anos. As autoridades de Moscovo têm-se desdobrado em disseminar dúvidas, sugerindo o envolvimento da Ucrânia e até de alguns dos aliados ocidentais de Kiev, como Estados Unidos e Reino Unido. Hoje, foi o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) russo a questionar a capacidade do EI para lançar um ataque na capital moscovita, que subtraiu, segundo novo balanço divulgado esta quarta-feira, 14O vidas, a que se somam 360 feridos.
Além do presidente russo, Vladimir Putin, que desde sábado insiste em associar a Ucrânia ao atentado de sexta-feira no Crocus City Hall, em Krasnogorsk, nos arredores de Moscovo; e do diretor do Serviço Federal de Segurança (FSB), que implicou ainda Washington e Londres, hoje foi a diplomacia russa a desacreditar a autoria a solo do Daesh no massacre.
A porta-voz do MNE, Maria Zakharova, considerou, na conferência de imprensa semanal, ser “extremamente difícil acreditar” que o Estado Islâmico teria a capacidade para concretizar um ataque com esta escala numa sala de espetáculos na capital russa, contrariando, assim, a reivindicação do próprio grupo jiadista e as garantias dos serviços de inteligência de Estados Unidos e França de que o EI é o único responsável, descartando qualquer envolvimento de Kiev.
Desde sexta-feira, a Ucrânia tem rejeitado de forma veemente as acusações russas, negando ter qualquer envolvimento no atentado. Também o chefe da diplomacia britânica, David Cameron, considerou as alegações russas sobre o envolvimento de Kiev e de alguns dos seus aliados ocidentais “totalmente absurdas”.
Investigadores estatais russos anunciaram esta quarta-feira que vão analisar um pedido do Parlamento para investigar o que chamaram de “organização, financiamento e conduta de atos terroristas” contra a Federação Russa pelos Estados Unidos e outros países ocidentais, o que vem ampliar a especulação, profusamente veiculada nos últimos dias, sobre o alegado envolvimento ucraniano e ocidental no ataque, ainda que não tenham sido fornecidas provas.
Desaparecidos estão ainda 143
Segundo a agência noticiosa russa TASS, que cita um comunicado, “o Comité de Investigação da Rússia recebeu 143 relatórios de vítimas que afirmam que os seus familiares ou entes queridos desapareceram como resultado do ataque terrorista”. Na mesma nota, o Comité diz ter identificado já 84 corpos, incluindo os de cinco crianças. “Testes genéticos moleculares estão a ser realizados para estabelecer as identidades do restante das pessoas mortas”, afirmou o organismo russo de investigação.
Ainda segundo a agência TASS, são, até ao momento, 140 os mortos confirmados e 360 feridos – 80 deles ainda permanecem nos hospitais, incluindo seis crianças.
De acordo com a TASS, os danos do ataque "podem exceder 10 mil milhões de rublos (108 milhões de dólares)". Um agente de seguros citado pela agência explica que "o dano real foi estimado em mais de 10 mil milhões de rublos, mas o valor das perdas seguradas ainda não está claro, pois pode ser muito menor. A investigação e o subsequente processo de liquidação podem levar até dois anos".