Especialista ouvido pelo JN considera que a capacidade dos países da União Europeia em superar as sucessivas crises enfraqueceu formações deste espectro político.
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Os golpes aos partidos populistas de Direita na Europa sucedem-se. Desde a Alemanha onde o principal partido de extrema-direita assistiu a um significativo recuo nas eleições para a chancelaria do país, à Itália, onde a Liga, de Matteo Salvini - grande rosto do populismo - sofreu um duro golpe no escrutínio da semana passada. A crise parece ser evidente e começa a chegar à Áustria e à Polónia.
"Não há dúvida de que há sinais de uma quebra na Direita populista europeia", afirma ao JN José Palmeira, professor auxiliar da Universidade do Minho e especialista em Ciência Política.
"Estes movimentos cresceram durante a crise económica de 2008 e a sucessiva crise migratória. Agora, estamos a assistir a uma certa inversão".
As dificuldades são crescentes. Na República Checa, a Aliança dos Cidadãos Descontentes, do primeiro-ministro populista Andrej Babis, perdeu as eleições parlamentares. A designação de um novo chefe de Governo depende agora do presidente Milos Zeman, que está hospitalizado.
Na Áustria, o chanceler conservador, sem medo de usar argumentos populistas, Sebastian Kurz, apresentou a demissão na sequência de uma investigação por alegada corrupção - que nega.
Kurz figura num grupo de acusados de tentar garantir a ascensão do seu partido, ÖVP (Partido Popular), à liderança do país com a ajuda de sondagens manipuladas e notícias favoráveis na Imprensa, financiadas com dinheiro público. Foi ontem substituído pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Alexander Schallenberg.
Recorde-se que a coligação que mantinha com a extrema-direita ruiu em 2019 porque o parceiro populista se viu envolvido num escândalo de corrupção. A saída de Kurz acontece num momento em que o cenário político da Europa parece cada vez mais fragmentado.
A ajuda da Pandemia
"O que fragilizou muito o populismo na Europa foi termos conseguido superar as crises e, durante a pandemia, os governos nacionais terem dado respostas mais ou menos boas", acrescenta José Palmeira.
Já na Polónia, onde o Governo nacionalista de Direita se quer sobrepor às leis da União Europeia, deixando pairar no ar uma possível saída do país da UE, o "polexit", as manifestações contra o executivo têm cada vez mais expressão.
Com a Hungria, a Polónia é um dos maiores redutos do populismo na Europa e "talvez tenha dado um passo maior do que a perna" ao querer colocar as leis da Constituição polaca acima das leis da UE. "E isso poderá ser fatal para o Governo", constata o professor, acrescentando que Donald Tusk, principal líder da oposição na Polónia e ex-presidente do Conselho Europeu, está a tentar formar uma grande coligação que pode derrubar o atual Executivo.
Mas porque é que o populismo na Europa está em queda? É simples, diz José Palmeira. "Somado às crises nos partidos de Direita, perderam referências do populismo". Matteo Salvini, o líder populistas que mais longe chegou - foi vice-primeiro-ministro de Itália - "sofreu uma grande derrota na semana passada", nas eleições administrativas.
"Pode falar-se também de Donald Trump", ex-presidente dos EUA, que tinha muita influência sobre o movimento de Direita populista na Europa.
É certo que os partidos populistas viveram momentos áureos, admite José Palmeira, mas a pandemia de covid-19 levou as pessoas a depositar confiança nos partidos tradicionais e a entender a importância dos governos e a força quebrou.