O secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, baleado na semana passada na Beira, Sofala, centro de Moçambique, registou melhoras, mas continua internado numa clinica da África do Sul, disse hoje à Lusa fonte do maior partido de oposição.
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António Muchanga, porta-voz da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), adiantou que a última informação médica apontava para uma melhoria considerável do estado de saúde de Bissopo, sem no entanto confirmar informações que dão conta de que foi submetido a uma cirurgia para retirar um projétil alojado no seu corpo.
Manuel Bissopo "está a registar melhorias, mas continua internado", informou António Muchanga, salientando que continuará internado e em observação.
O número dois da Renamo foi transferido de uma clínica privada na Beira para a África do Sul na quinta-feira à noite, um dia depois de ter sido baleado por desconhecidos na Beira, província de Sofala.
Manuel Bissopo foi atingido no bairro da Ponta Gea, centro da Beira, no mesmo dia em que realizou uma conferência de imprensa para denunciar alegados raptos e assassínios de quadros da Renamo.
Segundo jornalistas locais ouvidos pela Lusa, os atiradores, que se faziam transportar em duas viaturas, bloquearam o carro em que seguia Bissopo e abriram fogo.
O guarda-costas do secretário-geral morreu no local, tendo outros ocupantes que seguiam na viatura sofrido ferimentos ligeiros.
Na sexta-feira, o comandante-geral da Polícia, Jorge Khálau, disse, em conferência de imprensa, que a Polícia da República de Moçambique (PRM) já criou uma comissão de inquérito para investigar o baleamento do secretário-geral da Renamo, lamentando o incidente e condenado os seus autores.
"Nós, a PRM, estamos no terreno à procura dos autores", afirmou o comandante-geral da polícia.
O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, responsabilizou por seu lado na sexta-feira a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) pelo baleamento de Bissopo, acusando a força política no poder de fomentar "terrorismo de estado".
Já a Frelimo lamentou na quinta-feira o incidente, no qual não vê motivações políticas, e insistiu urgência no desarmamento da maior força política de oposição.
Moçambique vive uma situação de incerteza política há vários meses e o líder da Renamo ameaça tomar o poder em seis províncias do norte e centro do país, onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.
Na sexta-feira, Jorge Khálau manifestou-se preocupado com as declarações do líder do maior partido em Moçambique de que vai governar à força em seis províncias a partir da março, considerando que a PRM "está firme e continuará a defender os cidadãos".
"Nós não queremos guerra, mas também temos obrigação de defender a Constituição", afirmou Jorge Khálau, reiterando que a PRM "não vai permitir uma governação à força".
Afonso Dhlakama não é visto em público desde 09 de outubro, quando a sua residência na Beira foi invadida pela polícia, que desarmou e deteve, por algumas horas, a sua guarda.
Nos pronunciamentos públicos que tem feito nas últimas semanas, Dhlakama afirma ter voltado para Sadjundjira, distrito de Gorongosa, mas alguns círculos questionam a fiabilidade dessa informação, tendo em conta uma alegada forte presença das forças de defesa e segurança moçambicanas nessa zona.
A Renamo pediu recentemente a mediação do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e da Igreja Católica para o diálogo com o Governo e que se encontra bloqueado há vários meses.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, tem reiterado a sua disponibilidade para se encontrar com o líder da Renamo, mas Afonso Dhlakama considera que não há mais nada a conversar depois de a Frelimo ter chumbado a revisão pontual da Constituição para acomodar as novas regiões administrativas reivindicadas pela oposição e que só retomará o diálogo após a tomada de poder no centro e norte do país.