O discurso de despedida à nação do presidente cessante dos Estados Unidos, Joe Biden, motivou reações polarizadas, com amplos elogios e simultaneamente duras críticas entre imprensa, analistas e políticos.
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"Acho que este foi talvez um dos melhores discursos que já ouvi Joe Biden fazer", afirmou David Axelrod, ex-assessor do antigo presidente Barack Obama e comentador da CNN Internacional, após o discurso
"E a razão é que Biden fez o discurso sobre o país. Sim, ele reivindicou o crédito pelo progresso, mas o discurso foi sobre o país em que ele acredita, o país que ele vê, os desafios e ameaças que ele vê. E, no final das contas, foi um discurso muito otimista, de que podemos superá-los se formos sérios em enfrentá-los", acrescentou.
Mary Jordan, editora do Washington Post, considerou o discurso, em declarações ao canal ABC News, "memorável", além de "direto e extraordinariamente claro", enquanto a jornalista Kristen Welker, apresentadora do Meet the Press (NBC), avaliou tratar-se de um discurso que entrará "para os livros de história".
Já Rachel Maddow, apresentadora do canal MSNBC, focou-se nos alertas que Biden fez sobre uma "oligarquia" tecnológica que ameaça a democracia do país e nas preocupações com a imprensa livre.
"Foi claro e sóbrio e deu-me um arrepio na espinha. Acho que ele está certo, e estou feliz que Biden tenha tirado tempo para abordar esses temas", defendeu.
Um dos momentos mais significativos do discurso que Biden fez na noite de quarta-feira, em horário nobre, a partir do Salão Oval da Casa Branca, foi quando alertou para uma “oligarquia que está a ganhar forma na América”, referindo-se ainda a “forças poderosas” contra a ação climática e uma população “soterrada por uma avalanche de desinformação".
“Hoje, uma oligarquia está a ganhar forma na América, de extrema riqueza, poder e influência, que ameaça literalmente toda a nossa democracia, os nossos direitos e liberdades básicas, e uma hipótese justa para todos progredirem”, observou.
Biden fez ainda questão de ressaltar a importância das instituições democráticas para o país, como os tribunais e a imprensa, instituições que o presidente eleito, Donald Trump, atacou em diversas ocasiões.
O presidente cessante assegurou ainda uma "transferência de poder pacífica e ordeira", numa referência indireta aos esforços de Trump para reverter os resultados da eleição de 2020, que acabaram por levar ao ataque ao Capitólio de 6 de janeiro de 2021.
"Quatro anos históricos"
Em poucas horas, o discurso de Biden transformou-se num campo de batalha partidária.
“O presidente Biden fez o seu discurso de despedida para uma nação que é mais forte por causa de sua liderança”, escreveu a ex-presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi na plataforma X.
Pelosi, apontada como um dos nomes que defendeu a desistência de Biden da corrida à reeleição, elogiou aquilo a que chamou de “quatro anos históricos de progresso, esperança e unidade para as famílias americanas” sob o mandato do democrata.
Também Barack Obama enalteceu Biden na sua despedida, recordando o trabalhado do chefe de Estado durante a pandemia de covid-19.
"Há quatro anos, no meio de uma pandemia, precisávamos de um líder com caráter para deixar a política de lado e fazer o que era certo. Foi isso que Joe Biden fez", escreveu Obama no X.
"Sou grato a Joe pela sua liderança, amizade e pela sua vida inteira de serviço a este país que amamos", frisou.
Por outro lado, vários comentadores do canal conservador Fox News criticaram duramente o discurso de despedida de Biden, com o apresentador Greg Gutfeld a argumentar que este foi um "final embaraçoso e patético para um mandato embaraçoso e patético”.
"Estou aliviada por o seu mandato de quatro anos estar a chegar ao fim. Biden falhou na união dos americanos e impulsionou políticas terríveis (...) que nos enfraqueceram em muitas frentes: energia, segurança nacional, economia/pequenas empresas, relações exteriores e liberdades gerais. A história não verá com bons olhos o mandato de Biden. Ele agora é o presidente dos EUA mais impopular da história", avaliou a diretora do Centro de Energia e Conservação do Fórum Independente de Mulheres, Gabriella Hoffman, na plataforma X.
Já o senador republicano Markwayne Mullin criticou o facto de Biden mencionar a "histeria climática antes das prioridades reais, como segurança de fronteira, redução de custos e paz através da força".
Esta foi a quinta vez que Biden, de 82 anos, se dirigiu à nação a partir da Sala Oval da Casa Branca. A última vez foi em 24 de julho, quando explicou os motivos que o levaram a desistir da corrida presidencial de 2024.
O discurso de quarta-feira encerra não apenas quatro anos na Casa Branca, mas mais de meio século de Biden dedicado ao serviço público.