Alguns dissidentes cubanos, como a líder da organização Damas de Blanco, Berta Soler, e o opositor Antonio Gonzales-Rodiles, recusaram o encontro com o secretário de Estado norte-americano, na sexta-feira em Havana.
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Os dois dissidentes foram convidados a participar na receção da residência do encarregado de Negócios da embaixada dos Estados Unidos na capital cubana, Jeffrey DeLaurentis, onde também foi içada uma bandeira norte-americana, à semelhança do que aconteceu no edifício da embaixada.
Na sexta-feira, o secretário de Estado presidiu à cerimónia oficial de reabertura da embaixada norte-americana na capital cubana para a qual não foram convidados nem opositores ao regime cubano nem representantes da sociedade civil.
Berta Soles, líder das Damas de Blanco, disse à agência Efe que não participou na receção na residência do encarregado de Negócios porque lhe "pareceu mal" que a administração dos Estados Unidos só tenha convidado os dissidentes para um "ato de menor importância" e os tenha afastado da cerimónia oficial de abertura da embaixada.
Para Soles, os Estados Unidos, ao não convidarem os dissidentes para a cerimónia na embaixada, cederam às "exigências" das autoridades de Cuba.
Segundo Berta Soles, o convite que recebeu era apenas para um ato em que "simplesmente se ia içar uma bandeira" e ninguém deu garantias de que tivessem oportunidade para a realização de uma reunião de trabalho com Kerry onde pudessem "falar abertamente de direitos humanos na ilha".
A líder das Damas de Blanco, grupo formado pelas mulheres e filhas dos presos políticos que constituíram o grupo de 75 homens presos na "Primavera Negra" de 2003 em Cuba, disse mesmo que é mais importante ter ficado a trabalhar na preparação das denúncias sobre a "repressão" cometidas contra ativistas e "damas de blanco" que organizam marchas pacíficas todos os domingos em Havana.
Soler acrescentou que na sexta-feira quatro simpatizantes das Damas de Blanco foram presos na capital cubana na altura em que empunhavam um cartaz que pedia liberdade para todos os presos políticos.
O opositor Antonio González-Rodiles, diretor do Sats, fórum de crítica ao Estado cubano, também declinou o convite dos Estados Unidos porque lhe pareceu "lamentável" que nenhum dissidente tivesse sido convidado para a cerimónia oficial de reabertura da representação diplomática dos Estados Unidos.
"Não é compreensível que a administração do presidente Barack Obama sofra também da repressão do regímen cubano", afirmou Rodiles em declarações à agência EFE.
Na opinião do dissidente, os Estados Unidos estão a "ceder demasiado" no processo de restabelecimento de relações com Cuba, "sem exigir nada em troca".
Na última quarta-feira, o Departamento de Estado confirmou que nenhum representante da sociedade civil seria convidado para a cerimónia oficial da reabertura da embaixada em Havana, apesar dos convites a vários dissidentes para o ato privado na residência do encarregado de Negócios.
John Kerry, no discurso oficial em Havana, na sexta-feira, abordou a questão dos direitos humanos em Cuba e o ministro cubano dos Negócios Estrangeiros, Bruno Rodriguez, disse que Cuba pretende discutir "todos os assuntos" com os Estados Unidos, incluindo direitos humanos.
"Nós temos conceitos diferentes sobre soberania, democracia e direitos humanos", afirmou Rodriguez na conferência de imprensa que decorreu na sexta-feira, em Havana.
O próximo contacto diplomático entre os dois países está agendado para os dias 10 e 11 de setembro, em Havana.