"Ditador sem eleições"? Verificação dos factos sobre as principais críticas de Trump a Zelensky
Em meados de fevereiro, Donald Trump multiplicou os ataques contra Volodymyr Zelensky, apelidando o presidente ucraniano de "ditador sem eleições" e acusando-o de ter "iniciado" a guerra. Esta quinta-feira, Trump negou estas declarações: "Não acredito que disse isso".
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O presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, culpou o hómologo ucraniano, Volodymyr Zelensky, pela guerra e repreendeu-o por não ter iniciado as conversações de paz mais cedo. "Há três anos que está lá", disse Trump, na passada terça-feira. “Devia ter acabado com a guerra... Nunca a devia ter começado. Podia ter feito um acordo”.
Esta quinta-feira, depois de se ter encontrado com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, na Casa Branca, Trump parece ter mudado de ideias. O presidente mostrou-se otimista quanto ao encontro com Zelensky, agendado para esta sexta-feira: “Acho que vamos ter uma reunião muito boa. Vamos dar-nos muito bem”.
Questionado pela BBC sobre se pediria desculpa por lhe ter chamado "ditador", Trump respondeu: "Eu disse isso? Não acredito que disse isso".
A agência France-Presse puxou a fita atrás e analisou as declarações de Donald Trump, que se revelaram falsas e enganosas.
Trump disse mesmo que Zelensky é um "ditador sem eleições"?
A 19 de fevereiro, Donald Trump chamou a Zelensky "um ditador sem eleições", um dia depois de ter afirmado que o líder ucraniano tinha apenas 4% de "índice de aprovação" nas sondagens.
Trump não soube justificar a percentagem apontada. Zelensky disse aos jornalistas que se tratava de desinformação russa e que a Ucrânia tinha "provas" de que tinha origem em conversas entre funcionários russos e norte-americanos.
Alguns meios de comunicação social russos insistiram nesta percentagem, citando uma sondagem na rede social Telegram, publicada pelo deputado ucraniano pró-russo Oleksandr Dubinsky, que foi sancionado pela administração dos EUA em 2021.
De acordo com uma sondagem realizada este mês pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, Zelensky tem um índice de aprovação de 57%. Mesmo que este valor tenha diminuído face aos 90% registados logo após a invasão russa, em 2022, é um sinal de que Zelensky está a "manter a sua legitimidade", afirmou o instituto.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, tem repetidamente chamado Zelensky de governante ilegítimo porque não convocou eleições desde que ganhou um mandato de cinco anos em maio de 2019. A lei marcial da Ucrânia, aprovada no dia da invasão russa, impede, no entanto, a realização de eleições.
Quem começou a guerra?
Quando acusou a Ucrânia de começar a guerra, Trump estava, novamente, a fazer eco dos comentários russos. “Foram eles que começaram a guerra em 2014”, disse Putin numa entrevista ao conservador norte-americano Tucker Carlson.
O ex-vice-presidente de Trump, Mike Pence, rebateu a afirmação na rede social X. "Sr. Presidente, a Ucrânia não começou esta guerra. A Rússia lançou uma invasão brutal e sem provocação", disse Pence. "O caminho para a paz deve ser construído com base na verdade".
O conflito entre a Ucrânia e a Rússia remonta a fevereiro de 2014, quando o presidente pró-russo, Viktor Yanukovych, fugiu para a Rússia. As forças especiais russas assumiram o controlo da Crimeia alguns dias depois, antes de uma anexação formal não reconhecida pela maioria da comunidade internacional.
O conflito estendeu-se então ao Donbass, onde Moscovo fomentou um conflito armado contra Kiev com a ajuda de forças separatistas pró-russas. A Rússia concentrou as suas forças na fronteira e os primeiros tanques entraram na Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, dando início à invasão russa em grande escala.