Divisão entre Ocidente e Sul Global marca comemorações dos 80 anos da derrota nazi
As cerimónias do Dia da Vitória, que marcam a data quando os nazis capitularam, na II Guerra Mundial, estarão divididas por mais um ano entre o Ocidente e o Sul Global. Enquanto a Europa e a Ucrânia celebram esta quinta-feira, Rússia, China e Brasil estão entre os paísess que participam nas comemorações na sexta-feira.
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A rendição nazi, após a queda de Berlim pelos soviéticos alguns dias antes, foi assinada ao final da noite do dia 8 de maio de 1945 na Alemanha – quando já era dia 9 em Moscovo. Desde então, tanto Rússia quanto Ucrânia celebravam o Dia da Vitória a 9 de maio, com Kiev a antecipar oficialmente a data a partir de 2024, num sinal de distanciamento dos russos e de aproximação com os europeus.
Neste ano, Vladimir Putin, assim como na Páscoa, declarou um cessar-fogo unilateral na guerra com a Ucrânia, desta vez de três dias, até 10 de maio. A Ucrânia, que já acusou Moscovo de quebrar a trégua esta quinta-feira, rejeitou a proposta do presidente russo, defendendo uma pausa incondicional no conflito por 30 dias.
Volodymyr Zelensky afirmara que não podia garantir a segurança dos líderes estrangeiros que se deslocassem a Moscovo para participar das cerimónias no dia 9 – declaração encarada como uma ameaçada pelas autoridades russas. “Será um desfile de cinismo. Não há outra forma de o descrever”, destacou o chefe de Estado ucraniano.
Entre os presentes estarão os presidentes Lula da Silva, do Brasil e Nicolás Maduro, da Venezuela. Líderes da Autoridade Palestiniana, da Bielorrússia, de Cuba, do Egito e do Vietname vão comparecer também, assim como o chefe de Estado chinês, Xi Jinping.
“Juntamente com os nossos amigos chineses, defendemos firmemente a verdade histórica, protegemos a memória dos acontecimentos dos anos de guerra e combatemos as manifestações modernas do neonazismo e do militarismo”, assinalou Putin. “Perante a contracorrente internacional do unilateralismo e do comportamento de intimidação hegemónica, a China trabalhará com a Rússia para assumir as responsabilidades especiais das grandes potências mundiais”, pontuou Xi.
Entre os europeus em Moscovo, há o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, e o presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic – com ambos a enfrentar proibições de diversos países no uso do espaço aéreo para a deslocação para a capital russa. O líder sérvio garantiu que a visita à Rússia não vai afetar o caminho de Belgrado para a adesão à União Europeia e frisou que está no país para, primeiramente, discutir um “acordo de fornecimento de gás”. Esta semana, Bruxelas anunciou que planeia cessar as importações de todo o gás russo até 2027.
Europeus celebram de diversas formas
O Dia da Vitória é feriado em França, com solenidades em diversas cidades e aldeias. O presidente francês, Emmanuel Macron, participará na tradicional cerimónia na Champs-Élysées, deixando uma coroa de flores no Túmulo do Soldado Desconhecido, sob o Arco do Triunfo.
Na Alemanha, o 8 de maio é feriado oficial apenas em Berlim, apesar de propostas de tornar a data um feriado nacional – rejeitadas pela extrema-direita. Segundo a Agência Federal de Educação Cívica germânica, a falta de ação para celebrar a nível nacional reflete um "consenso de silêncio sobre esta data ambivalente que dura décadas". Parte da ambivalência é explicada pelo facto de que, para muitos alemães, o fim da guerra estar ligado não só à derrota nazi, mas também à expulsão de alemães étnicos de zonas da Europa de Leste.
No Reino Unido, apesar de o Dia da Vitória não ser um feriado, é amplamente comemorado em diversos locais, com dias de celebrações. Na segunda-feira, um desfile ocorreu no The Mall, com o Palácio de Buckingham ao fundo e com a presença do rei Carlos III, bem como dezenas de milhares de pessoas. O discurso do antigo primeiro-ministro britânico foi lido pelo ator Timothy Spall.
Nem Europa, nem Rússia: Estados Unidos
Afastando-se cada vez mais dos aliados europeus, Donald Trump desta vez não aproximou-se de Moscovo, reivindicando os louros pela vitória contra os nazis. “A vitória foi conquistada em grande parte por nossa causa, queira ou não”, disse o presidente norte-americano esta quarta-feira, que proclamou o Dia da Vitória como um “dia de celebração”.
"Foram tanques, navios, camiões, aviões e militares norte-americanos que derrotaram o inimigo há 80 anos, esta semana. Sem os Estados Unidos, a Libertação nunca teria acontecido", acrescentou o chefe de Estado. Após entraram na guerra, em 1941, os EUA perderam mais de 400 mil pessoas no conflito. A União Soviética perdeu 20 milhões de vidas na luta contra o nazismo e foram as tropas do Exército Vermelho que capturaram Berlim, em 1945.