Processo de escolha do novo Papa ainda não começou oficialmente, mas dentro de portas os cardeais discutem o futuro da Igreja. Conclave pode começar a partir de 4 de maio.
Corpo do artigo
Terminado o funeral do Papa Francisco, espera-se uma romaria à Basílica de Santa Maria Maior, para visitar o túmulo de mármore com a inscrição “Franciscus”. Mas no Vaticano, intensifica-se o trabalho para o cardeais, que têm reunido diariamente para decidir o dia a dia da Igreja Católica, mas também para ultimar os pormenores do serviço fúnebre já terminado e se conhecerem, tendo em vista a eleição do novo sumo pontífice que vai herdar o poder.
Saiba mais sobre o conclave aqui
Francisco nomeou 80% dos 135 cardeais que terão direito de voto no próximo conclave, aqueles com menos de 80 anos, e muitos deles, de fora de Itália e da Cúria, ainda não tinha tido a oportunidade de conhecer a fundo os restantes. “Nas congregações gerais há quase um pré-conclave” para “definir o perfil do futuro Papa”, afirmou à agência Lusa Eduardo Baura, professor de direito canónico na pontifícia universidade de Santa Cruz, em Roma, que pertence à Opus Dei.
Após os nove dias de luto tradicionais após a morte de um Papa, conhecidos por “novemdiales", que findam a 4 de maio, há luz verde para começar. O processo não tem uma duração estipulada, teminando apenas quando dois terços dos cardeais chegam a acordo sobre o nome a escolher. Há quatro votações diárias, duas de manhã e duas de tarde, com os religiosos a escreverem a sua escolha numa cédula depositada numa urna. Depois de cada votação, os papéis são queimados e o fumo é visível a partir da Praça de São Pedro. Fumo negro significa que ainda não há Papa, fumo branco revela que se chegou a um nome.
Segredo e intriga
As reuniões do conclave estão envoltas em alguns mistério e na cultura popular são o centro de grandes maquinações políticas, talvez pelo secretismo a que estão sujeitas. Os cardeais são fechados na Capela Sistina e ficam alojados na Casa de Santa Marta, durante o período que durar a reunião, sob juramento de segredo sobre o que passa sob os frescos de Miguel Ângelo.
O conclave que elegeu o Papa Francisco em 2013 demorou cerca de 24 horas e cinco cédulas, mas o processo pode durar mais. Um conclave no século XIII, por exemplo, demorou cerca de três anos. Apesar de vários analistas do Vaticano e jornalistas apontarem nomes como preferidos, não há uma campanha aberta para o lugar e, em teoria, qualquer católico fora do Conselho de Cardeais poderia ser eleito Papa, apesar de isso nunca ter acontecido.
O cardeal François-Xavier Bustillo, bispo de Ajaccio, na Córsega, disse à France-Presse (AFP) que os seus colegas cardeais devem evitar os jogos políticos e ouvir-se uns aos outros antes de decidir. "Não devemos agir de forma tática ou estratégica".
Conservadores e progressistas
Questionado sobre a possibilidade de um Papa africano ou asiático, o Arcebispo Jean-Claude Hollerich respondeu: "Porque não? Mas não é garantido". As competências e a personalidade são mais importantes do que a geografia. O candidato ideal seria um "homem simples" que "não fosse nem demasiado novo, nem demasiado velho", que "pudesse ligar-se às pessoas" e "soubesse ouvir" os de esquerda e os de direita, disse.
No entanto, o cardeal alemão Gerhard Muller, um conservador convicto que estava entre as principais vozes que se opunham à abordagem progressista de Francisco, disse que a Igreja corria o risco de um cisma se elegesse outro liberal. "A questão não é entre conservadores e liberais, mas entre ortodoxia e heresia", disse ao jornal britânico “The Times”. Sabe-se que Donald Trump gostaria que o conservador Raymond Burke, com 76 anos e um dos principais opositores de Francisco, fosse escolhido.
Oscar Maradiaga, das Honduras, aponta para outro perfil, em entrevista ao "La Stampa", pedindo um pontífice que transporte a tocha de Francisco.