Dois eurodeputados belgas admitiram, esta semana, que não declararam viagens pagas ao Catar, numa altura em que está em investigação um escândalo de tráfico de influência que abalou o Parlamento Europeu.
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No domingo, o advogado do eurodeputado socialista belga Marc Tarabella reconheceu que o cliente viajou para o Catar em fevereiro de 2020 às custas do estado do Golfo, mas não declarou a viagem conforme as regras do parlamento exigiam que fizesse. As autoridades belgas pediram o levantamento da imunidade de Tarabella. "Foi convidado [para o Catar] para um congresso. Os organizadores pagaram", disse o advogado de Tarabella, Maxim Toller, à emissora belga RTL no domingo. "Ele ainda não declarou... Foi para Gana e depois houve a covid... Um colega lembrou-o de fazer isso, mas o tempo acabou", disse Toller.
Esta confissão acontece quatro dias depois de outra eurodeputada belga do grupo Social e Democrata de centro-esquerda do parlamento, Maria Arena, ter admitido que se tinha "esquecido" de declarar uma viagem semelhante com despesas pagas ao Catar em maio de 2022. Na quarta-feira, Arena disse que o seu gabinete se tinha "esquecido" de declarar a viagem ao Catar, dizendo à imprensa belga que "o documento era bastante complicado de preencher".
A polícia belga conduziu uma série de buscas nas casas de eurodeputados e ex-deputados, em dezembro, tendo encontrado um total de 1,5 milhões de euros em dinheiro. Suspeita-se que o dinheiro esteja associado a uma suposta corrupção no Parlamento Europeu em benefício do Catar, que nega ter participado em qualquer irregularidade.
Escândalo de corrupção abala Parlamento Europeu
Em causa está uma investigação apelidada "Catargate" pelas autoridades da Bélgica, na qual a subcomissão de Direitos Humanos do Parlamento Europeu surge no centro de subornos de países como o Catar, Marrocos ou a Mauritânia. Estes países alegadamente pagaram por ingerências em decisões daquele organismo. Até agora, quatro pessoas foram indiciadas pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e participação numa organização criminosa, e três delas têm ligações próximas com aquela subcomissão.
Tarabella é próximo de Pier-Antonio Panzeri, um ex-deputado italiano de cuja casa foram apreendidos 600 mil euros em dinheiro como parte do inquérito.
O eurodeputado, cuja casa também foi alvo de busca negou envolvimento no suposto escândalo. O advogado garantiu que iria "colocar as coisas em ordem". "Não há nada de ilegal numa viagem paga por uma organização", disse Toller. Segundo o advogado, Tarabella foi ao Catar para ver os estádios construídos para o Mundial 2022 "e conhecer os trabalhadores".
Em novembro, o eurodeputado disse ao Parlamento Europeu que o Catar deu passos "positivos" para melhorar os direitos humanos.