"É a verdadeira Pat". Antiga seguidora de Charles Manson pode ser libertada após 56 anos na prisão
Patricia Krenwinkel, antiga seguidora de Charles Manson, que está presa há 56 anos pelo seu papel nos homicídios de Tate e LaBianca em Los Angeles, poderá ser libertada após ter recebido uma recomendação de liberdade condicional na semana passada.
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A mulher, que tem agora 77 anos, tinha 21 anos na altura dos homicídios de 1969 e está presa há mais tempo do que qualquer outra mulher na Califórnia.
De acordo com o jornal britânico "The Guardian", na sexta-feira passada, após 16 audiências de liberdade condicional, a idosa foi considerada apta para a liberdade numa audiência de quatro horas, na qual os comissários reconheceram o seu amadurecimento ao longo de mais de cinco décadas e concluíram que não representa um perigo para a sociedade.
“Temos de reconhecer que as pessoas podem mudar e mudam. A Pat cresceu na prisão e é uma pessoa tão doce, humilde, gentil e comunicativa. O que vemos agora é a verdadeira Pat”, disse Jane Dorotik, que passou quase 20 anos na prisão e conheceu Krenwinkel em 2006 na prisão da Instituição de Mulheres da Califórnia. “Aos 19 anos, foi sugada para este Mundo louco com Charles Manson, mas isso não é quem ela é e não deveria defini-la. Estas mulheres viviam numa seita, sofreram uma lavagem cerebral completa e eram muito jovens".
Sobre o tempo que passou com a mulher na prisão, Dorotik recordou ter ficado "impressionada com a sua simpatia". "Ela era muito prestável com os novos reclusos que chegavam. Sempre me senti muito tocada pelo seu empenho em ajudar a comunidade e melhorar o nosso ambiente. A sua posição era: ‘Sim, é terrível estarmos na prisão, mas podemos tirar o melhor partido disso'", continuou Dorotik, que foi libertada em 2020 após ter interposto um processo de condenação injusta e é agora membro do grupo de defesa California Coalition for Women Prisoners (CCWP)
Os advogados de Krenwinkel na UnCommon Law, uma organização sem fins lucrativos que representa pessoas em processos de liberdade condicional, referiram que a reclusa não violou nenhuma regra ao longo de cinco décadas e passou por nove avaliações de psicólogos prisionais que concluíram que não representa um risco para a sociedade. A lei também exige que o conselho considere que era jovem durante o crime e agora é idosa. “É incrivelmente difícil estar no ambiente violento da prisão e abster-se de qualquer comportamento violento ou violação de regras, e todos os que a conhecem falam sobre a forma como ajudou outras mulheres”, disse Su Kim, gestora sénior de políticas da UnCommon Law.
Por sua vez, alguns familiares das vítimas opuseram-se veementemente à libertação de Krenwiknel, incluindo Debra Tate, irmã de Sharon Tate. "A sociedade não pode permitir que esta assassina em série, que cometeu assassinatos tão horríveis, macabros e aleatórios, seja libertada", escreveu numa petição online.
Abusada e humilhada
Condenada em 1971 pelo seu papel nas duas noites de homicídios que ceifaram a vida à atriz Sharon Tate e aos seus quatro amigos, e ao dono de uma mercearia Leno LaBianca e à sua mulher, Rosemary, há muito que Krenwinkel expressa remorsos pelo crime.
Num audiência em 2022, a mulher falou sobre o abuso físico, a humilhação e a degradação que sofreu às mãos de Manson. “Quero dizer o quanto sinto muito por toda a dor e sofrimento que causei quando tirei as vidas que tirei. Tento todos os dias viver para me redimir e concentrar-me em ser uma pessoa melhor", afirmou.
Segundo Kim, sobreviventes de violência doméstica cometem crimes sob coação, medo e trauma e há um reconhecimento crescente do controlo psicológico exercido pelas seitas. "Embora o impacto terrível dos seus crimes permaneça imutável, o contexto atual exige-nos repensar a história de Pat com maior complexidade e apreço pelo que sabemos agora sobre as profundas ligações entre trauma e comportamento humano", defendeu.
O caso de Krenwinkel avançou num momento de crescente reconhecimento do impacto do abuso e do trauma na infância, com os defensores da reforma da justiça criminal a defenderem que estas histórias devem ser consideradas para pessoas que cumprem penas longas por crimes graves. Por exemplo, recentemente houve pressão para libertar Erik e Lyle Menendez, os irmãos condenados pelo homicídio dos pais em 1989, com o antigo procurador distrital de Los Angeles a observar os abusos sofridos na juventude e a argumentar que demonstraram reabilitação e mereciam regressar a casa. Os irmãos continuam presos enquanto o seu caso avança pelo processo de liberdade condicional.
Governador pode vetar saída
Apesar de ter sido considerada apta, Krenwinkel, condenada por sete acusações de homicídio numa das mais notórias vagas de assassinatos nos EUA, enfrenta um processo legal politizado que impede regularmente pessoas ligadas a crimes notórios de serem libertadas, mesmo que as autoridades as considerem aptas.
A Califórnia é um dos dois estados que dá ao governador o poder de vetar decisões de liberdade condicional. O atual governador democrata Gavin Newsom reverteu a decisão de conceder liberdade a pessoas em casos notórios, como Sirhan Sirhan, que continua preso pelo assassinato de Robert F. Kennedy; Leslie van Houten, ex-apoiante de Manson, que acabou por ser libertada em 2023; e a própria Krenwinkel, cuja liberdade condicional que obteve em 2022 foi vetada por Newsom.
Na altura, o governador disse concordar que a mulher tinha um bom comportamento na prisão e tinha "demonstrado remorso efusivo", mas "os seus esforços não reduziram suficientemente o seu risco de perigosidade futura" e que precisava de compreender melhor os seus "gatilhos para pensamentos e condutas antissociais".
A divisão jurídica do conselho de liberdade condicional tem 120 dias para analisar a concessão da liberdade condicional a Krenwinkel. Depois, Newsom terá mais um mês para tomar a sua decisão.