O Egito está a construir uma área cercada por altos muros de betão no deserto do Sinai, ao longo da sua fronteira com Gaza, que parece destinada a albergar palestinianos em fuga devido à ameaça de uma ofensiva terrestre israelita à cidade de Rafah.
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A Fundação Sinai para os Direitos Humanos (SFHR) divulgou imagens nas redes sociais, que mostram trabalhadores a usar máquinas pesadas para erguer barreiras de betão e torres de segurança em torno de uma faixa de terra no lado egípcio da passagem de Rafah. Segundo a organização, a obra serve para “estabelecer uma área isolada cercada por muros na fronteira com a Faixa de Gaza, com o objetivo de receber refugiados em caso de êxodo em massa”.
De acordo com o jornal norte-americano "The Wall Street Journal", o recinto terá 13 quilómetros quadrados e poderá abrigar mais de 100 mil pessoas. No entanto, as autoridades egípcias disseram que o país tentaria limitar o número de palestinianos na área murada a 50 mil a 60 mil. As autoridades acrescentaram que os palestinianos seriam proibidos de deixar a área exceto se partissem para outro país e que seriam reforçadas as restrições de viagem no norte do Sinai.
Por sua vez, o governador do Norte do Sinai, Mohamed Abdel Fadil Choucha, negou que estivesse a ser construído um campo de refugiados, afirmando que o trabalho fazia parte de uma avaliação dos danos das anteriores operações militares egípcias contra os jiadistas do Estado Islâmico no Sinai. Por outro lado, a ONG egípcia sublinhou que dois chefes de empresas locais confirmaram a obtenção dos contratos para construir uma área fechada "rodeada por muros de sete metros de altura".
Os bombardeamentos de Gaza por Israel desde os ataques do Hamas em 7 de outubro deslocaram cerca de 1,7 milhões de pessoas, segundo a ONU. A maioria delas, cerca de 1,4 milhões, estão concentradas em Rafah, onde vivem em condições extremamente difíceis, sem alimentação adequada e em abrigos improvisados. Desde o início da guerra, o Cairo preparou-se para a "deslocação forçada" da população palestiniana em direção ao Sinai.
Apesar dos avisos em sentido contrário dos aliados e organizações internacionais, Israel está a planear um ataque a Rafah. Depois de, na quarta-feira, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ter prometido uma "operação poderosa" em Rafah após as forças israelitas permitirem a saída de civis da cidade, o presidente dos EUA, Joe Biden, advertiu Netanyahu, durante uma chamada telefónica na noite de quinta-feira, contra o avanço de uma operação militar em Rafah sem um “plano credível e executável” para proteger os civis.
Por sua vez, segundo o jornal britânico "The Guardian", o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Israel Katz, disse que não havia planos para deportar palestinianos da Faixa de Gaza e que Israel iria coordenar os seus planos para centenas de milhares de refugiados na cidade de Rafah com o Egito. “Lidaremos com Rafah depois de falarmos com o Egito sobre isso”, disse. “Vamos coordenar isso, temos um acordo de paz com eles e vamos encontrar um lugar que não prejudique os egípcios. Coordenaremos tudo e não prejudicaremos os seus interesses.”
Questionado sobre para onde iriam esses palestinianos, Katz sugeriu que poderiam regressa à cidade Khan Younis, em Gaza, quando esta for libertada do Hamas.
Esta sexta-feira, o líder da agência da ONU para os refugiados (ACNUR), Filippo Grandi, defendeu que é essencial evitar que os habitantes do sul de Gaza fujam para o Egito, porque isso pode destruir o processo de paz.