Nova Iorque acordou frenética, como todas as manhãs. “Life goes on” (a vida continua) ouve-se nas conversas na rua, depois dos EUA terem voltado a escolher Donald Trump para presidente nos próximos quatro anos.
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Durante a noite, várias festas foram organizadas para acompanhar os resultados das eleições, mas numa cidade e num estado tradicionalmente democratas, as festas acabaram em pesadelo.
Na Relay Graduate School of Education, bem perto do local dos ataques do 11 de setembro, onde se ergue agora o memorial ao World Trade Center, cerca de 30 pessoas juntaram-se a convite da Common Power, uma organização com base em Seattle, que mobiliza voluntários em todo o país, para apelar ao voto. Assumidamente apoiante de Kamala Harris, a Common Power esteve no terreno nos últimos meses, no contacto porta a porta.
Um dos organizadores da festa, Jeffery White, perdeu a conta aos estados por onde andou e na noite eleitoral anda numa azáfama a distribuir canetas, pequenas bandeiras com o nome de Kamala Harris e folhas para um bingo eleitoral, pelas mesas onde há pequenas estrelas vermelhas e prateadas.
Três grandes ecrãs estão sintonizados nas televisões e os convidados têm os “olhos colados” no grande ecrã e também nos telemóveis, descreve Alex. O jovem não faz parte da Common Power, mas não queria ficar sozinho em casa e decidiu juntar-se à festa que descobriu online.
Ao início da noite, ainda houve aplausos sempre que Kamala Harris conquistava um estado ou um candidato democrata garantia a eleição, mas a animação esbateu-se, dando lugar ao silêncio e ao desalento.
Antes de voltar para casa, e quando ainda não havia resultados finais, Alex prometia uma oposição “ainda mais forte”, a confirmar-se a eleição de Donald Trump. “Temos de começar a trabalhar e organizar-nos já, porque Trump vai escolher pessoas que lhe vão passar um cheque em branco”. Alex lembra que os americanos já conhecem o presidente agora reeleito: “uma pessoa terrível e um presidente horrível”. Portanto, “temos de lutar ainda com mais determinação”.
O professor da Relay Graduate School of Education, Jamie Verrilli, resume o futuro numa palavra: “resistir”. Não tem dúvidas que Trump vai querer trazer a “autocracia e o fascismo” ao país e está a tentar ser compreensivo com os americanos que “querem um homem criminoso, que minou a democracia e disse coisas horríveis nas últimas semanas”. Para Jamie Verrilli, é uma “cegueira” devastadora, mas o professor não está preparado para sair do país, embora tenha casa no Canadá, onde talvez venha a passar mais tempo.
Deixar os EUA é uma hipótese que divide o casal Brad e Alice. Ele tem um filho na Tailândia e, depois de ter vivido mais de dez anos na Europa, admite agora mudar-se para a Ásia. Ela, originária do Ohio, vive em Nova Iorque há 14 anos, e não quer abandonar o país. Poderia bem ser o retrato dos Estados Unidos da América, um país ainda mais estilhaçado depois da vitória de Donald Trump.