Região de Ricobayo, em Zamora, a 30 km de Portugal, perdeu os negócios de verão porque a barragem está seca. Iberdrola acusada de aproveitamento. Ministra promete novas medidas.
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A fatura da luz tem-se convertido no principal problema dos espanhóis que a cada semana sofrem um aumento no preço da eletricidade sem que o Governo socialista consiga travar esta subida. As companhias elétricas decidiram no último trimestre esvaziar as barragens espanholas para poderem produzir mais energia hidroelétrica. Porém, a polémica estratégia gerou uma dúvida: esta prática é habitual ou só foi utilizada para aproveitar a oportunidade do mercado, e assim, obter maiores benefícios económicos?
A apenas 32 quilómetros da fronteira com a região montanhosa portuguesa de Miranda do Douro, as praias da barragem de Ricobayo, em Zamora, costumam encher-se de turistas e banhistas durante a época estival, que desfrutam de uma paisagem idílica na beira do rio Esla, o maior afluente do Douro. Porém, aos poucos, a água foi-se evaporando, convertendo uma das zonas com menor população da Espanha num verdadeiro deserto. Segundo dados do site da Confederação Hidrográfica do Douro, o açude do Ricobayo começou o verão com 60% da sua capacidade, mas, em apenas seis semanas, viu reduzido o seu volume até 11%, alterando por completo o panorama. Nessas mesmas datas de 2020, a barragem estava a 72% da sua capacidade total.
Zamoranos estão em protesto
A empresa Iberdrola, que tem a concessão do espaço, decidiu aumentar a produção da central hidroelétrica, deixando cair mais água para esta ser processada de forma intensiva, sem ter em conta os interesses económicos das aldeias ribeirinhas, que ficaram sem o seu maior sustento, o turismo de verão. O paupérrimo volume de água impediu os negócios aquáticos de Ricobayo de abrir e, inclusive, algumas aldeias tiveram problemas de fornecimento depois do lodo ter invadido as bombas de extração.
Um milhar de habitantes das aldeias zamoranas mais afetadas pela nova seca manifestaram-se a semana passada em protesto contra a estratégia da Iberdrola, sem conhecerem ainda a verdadeira razão do esvaziamento.
Na procura da verdade, e em apoio aos afetados, a Federação Nacional de Associações de Municípios com Centrais Hidroelétricas e Barragens aportou mais dados à situação. "A companhia hidroelétrica produziu mais 20% de energia nos meses estivais, quando a capacidade da barragem do Ricobayo era 300% menor do que na primavera; no entanto, o preço da fatura da luz tinha aumentado 30%", diz uma nota de imprensa.
Numa carta de resposta às reclamações do executivo regional de Zamora, a Iberdrola afirmou estar a cumprir a normativa vigente da exploração do Ricobayo, e assegurou que, em oito ocasiões durante os últimos 25 anos, o nível de água foi inferior. "A barragem nunca se esvaziou, só está a cumprir a sua função no momento mais necessário: produzir energia para a demanda elétrica em Espanha".
Lei das águas prevê sanções
Desde meados de agosto, o Ministério para a Transição Ecológica abriu expedientes para as empresas que gerem as barragens das bacias hidrográficas do Douro, Tejo e Minho devido ao aproveitamento hidroelétrico através do desembalse massivo nos momentos mais calorosos do ano.
Para tentar regularizar a situação de forma definitiva, a ministra Teresa Ribera, que tem aberta outra frente importante no Mar Menor, anunciou que vai aplicar o artigo 55 da Lei da Água - que prevê medidas sancionadoras extraordinárias para limitar o esvaziamento do nível da água das barragens.