António Guterres deixa o aviso: "Falta vontade política". COP25 arranca esta segunda-feira em Madrid.
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"O que ainda falta é vontade política". O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, deu no domingo o mote ao início dos trabalhos da Conferência sobre as Alterações Climáticas (COP25), que arranca esta segunda-feira em Madrid na presença de mais de 50 líderes mundiais. Em emergência climática, e com resultados aquém do esperado, até onde estão, afinal, os países dispostos a ir? Qual a ambição em matéria de redução de gases com efeito de estufa (GEE) com vista à neutralidade carbónica em 2050?
Os dados estão lançados. Mesmo que se cumpra o Acordo de Paris, a temperatura vai subir 3,2 graus. De acordo com o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, será necessária uma redução de 7,6% ao ano, na próxima década, para se cumprir a meta de "estabilizar" a subida da temperatura nos 1,5.º até 2100. A alternativa, avisam, é uma "catástrofe climática".
Numa altura em que se ficou a saber que as emissões de GEE atingiram um novo recorde no ano passado, de 55,3 giga toneladas, com a China na posição de principal emissor (26,8%%), seguida dos EUA (13,1%). Estando os norte-americanos na iminência de rasgar o Acordo de Paris.
A que se junta o facto de, revela o Climate Action Tracker, cerca de 130 nações, "incluindo quatro dos cinco maiores emissores do Mundo", estarem muito aquém de contribuir para a redução das emissões globais. Destacando a quase ausência de medidas por parte da Federação Russa e EUA.
Olhos postos na China
Para Filipe Duarte Santos, perito em alterações climáticas, é tempo de aumentar a pressão (ler ao lado). Com o Parlamento Europeu a dar o pontapé de saída, ao desafiar a União Europeia (UE) a subir a fasquia e reduzir as emissões em 55% até 2030. "A Comissão Europeia já fala em 50%, 55%, na COP vamos ter vários anúncios que nos permitem perceber se estamos extremamente pessimistas ou um bocadinho menos pessimistas", diz, por sua vez, Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista ZERO.
Anúncios que serão fulcrais para perceber qual o posicionamento da China nesta COP. Tanto mais que, sublinha o ambientalista, a China não tem um valor definido no Acordo de Paris - a UE comprometeu-se com 40% e os EUA com 25% -, "a meta é começar a decrescer as emissões até 2030".
Para Francisco Ferreira a Cimeira que hoje arranca funcionará como a COP em Lima, que lançou as bases para o Acordo de Paris, em 2015, permitindo perceber até onde "era viável" ir. Pulso que se quer medir nesta COP de olho na de 2020, em Glasgow, "quando o compromisso de redução de GEE tem formalmente que acontecer".
Para o ministro do Ambiente, "será uma derrota se a Europa não se comprometer com o pressuposto de que toda a UE adere em uníssono à neutralidade carbónica em 2050". Lembrando Matos Fernandes que a "China tem sido inquebrantável" no combate às alterações climáticas.
Os ativistas prometem não desmobilizar, com uma "Marcha pelo Clima" marcada para o dia 6 e uma contra cimeira nos dias seguintes. À mobilização dos jovens, simbolizada por Greta Thunberg, são pedidas medidas concretas. Para ontem.