Taxa de feminicídios em Portugal é o dobro da espanhola, onde o clamor social e o combate são permanentes.
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"O machismo criminoso continua a matar mulheres. Não daremos um passo atrás até acabar com este flagelo". Com estas palavras, o presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, reagia no Twitter à notícia da mais recente vítima de violência de género em Espanha, ocorrida em Tenerife, no passado dia 4. Não foi a primeira vez. Cada vez que uma mulher é assassinada no país, Sánchez lança uma mensagem de conforto aos familiares e reitera o compromisso com a erradicação da violência de género. A nível municipal, guardam-se minutos de silêncio em memória das vítimas e decretam-se dias de luto.
Os gestos são simbólicos, mas espelham o empenho assumido pelo Estado espanhol na eliminação da violência contra as mulheres. O compromisso foi reforçado a partir de 2004, ano em que foi aprovada a lei contra a violência de género, que distingue a violência exercida sobre as mulheres (por entender que tem por base uma situação de desigualdade) de outros tipos de violência exercida no âmbito doméstico. Na mesma altura, foram criados tribunais específicos para julgar a violência sobre a mulher.
Medidas como estas têm contribuído para situar Espanha entre os países com a mais baixa taxa de feminicídio da Europa, ultrapassada por Portugal, onde o panorama é mais trágico. Com cerca de 500 mulheres assassinadas nos últimos 15 anos, a taxa de feminicídio portuguesa duplica a espanhola, onde no mesmo período se contaram 972 mulheres mortas.
Ainda assim, os números dramáticos fazem com que em Espanha o clamor social continue ativo, com milhares de mulheres e homens a exigirem mais medidas para combater o flagelo. Para o próximo dia 8 de março está a ser preparada uma nova greve feminista, que espera superar a paralisação do ano passado, secundada por mais de cinco milhões de mulheres.
Apesar da pressão social, o consenso político que existia em Espanha em relação à luta contra a violência contra as mulheres tem estado nos últimos meses sob ameaça, vendo-se questionado pelo partido de extrema-direita Vox, que critica o que chama "ideologia de género".