Quando a luso-luxemburguesa Jessica Lopes percebeu que os documentos da Segurança Social portuguesa estavam disponíveis apenas na língua oficial, decidiu traduzi-los para inglês, fazendo com que se tornassem acessíveis a centenas de imigrantes desesperados.
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Os emails e as mensagens no Facebook começaram a cair como pingos de chuva na última semana: "Can you help me?", "I don't know what to do", "How will I survive now?". A viver no Luxemburgo, Jessica Lopes, 28 anos, recebia pela caixa do correio o desespero de centenas de imigrantes em Portugal, que tinham acabado de ser despedidos ou viam suspensos os seus negócios, e viviam na angústia de não saber como iam pagar as rendas ou comprar comida.
Não era por acaso que se dirigiam a ela. Entre 2014 e 2017, a luxemburguesa de origem portuguesa tinha trabalhado em Lisboa, na organização Solidariedade Imigrante, que apoia cidadãos de países terceiros a legalizarem-se e a conhecerem os seus direitos em Portugal: "Apesar de ter voltado ao Grão-Ducado, eram essas pessoas que agora me contactavam porque não sabiam o que fazer das suas vidas."
Jessica sabia que o governo português tinha adotado um pacote de medidas de apoio às pequenas e médias empresas, bem como aos cidadãos que tivessem perdido o emprego durante o período de isolamento do coronavírus. "Quando cheguei ao site da Segurança Social, constatei que não só os documentos tinham uma linguagem difícil de compreender como estavam única e exclusivamente em português", diz. "Isso excluía imediatamente milhares de imigrantes que não dominam a língua."
Preocupavam-na sobretudo as comunidades do sul da Ásia, as que mais cresceram em Portugal nos últimos cinco anos. Há hoje mais de 100 mil trabalhadores do Bangladesh, da Índia, do Nepal e do Paquistão no país, mas poucos dominam o idioma. Jessica, que por estes dias ocupa o cargo de secretária-central adjunta do setor de limpezas na OGBL, a maior central sindical luxemburguesa, estava de casa em quarentena. "Assim, na tarde de segunda-feira, sentei-me ao computador a decifrar e traduzir para inglês os documentos e as requisições. Andei umas três horas naquilo."
Quando terminou, partilhou os papéis no Facebook e enviou-os por email a muitos dos que a tinham contactado. Nessa mesma noite, a informação já se tinha espalhado como um vírus. Pode parecer um esforço pequeno mas, para centenas de imigrantes em Portugal, perceber o que podem fazer pela sua sobrevivência é determinante.
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