Coincidências sem relação com o desastre do voo Air France 447.
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Depois da estupefacção, as coincidências dão corpo a um medo que pode generalizar-se. Quatro aeronaves da Airbus, o construtor do avião caído no Atlântico, fizeram aterragens de emergência em três dias.
Na vasta zona de buscas, em pleno Oceano Atlântico, o mau tempo voltou a dificultar as operações. Mais corpos haviam sido avistados a partir de um navio francês envolvido nos trabalhos, mas mantinha-se em 41 o número de cadáveres recolhidos. Quanto às dúvidas relativas a causas do acidente são as mesmas que foram colocadas há 12 dias, no momento em que se soube da desaparição do voo AF 447, que ligava o Rio de Janeiro a Paris.
Não sendo recuperadas as caixas negras do A 330, andar-se-á quase sempre no campo das suposições, embora a análise de destroços possa proporcionar esclarecimentos. Daí que seja meramente especulativa a possibilidade de a queda do avião estar associada a deficiências de sensores de velocidade cuja substituição, soube-se entretanto, estava agendada pela Air France. Ora, o director-geral da companhia francesa, Pierre-Henri Gourgeon, afirmou ontem estar "convencido" de que não há qualquer relação entre os ditos sensores e o acidente, apoiando-se nos primeiros dados fornecidos pelo inquérito oficial.
As pessoas precisam de respostas, procurando-as por todo o lado. Daí que a inusitada circunstância de quatro aeronaves da Airbus terem feito aterragens de emergência, em três dias, seja associada ao acidente, manchando a imagem do fabricante europeu.
A mais grave das ocorrências deu-se ontem, com um A 330 da companhia australiana Jetstar que teve de pousar em Guam, no Pacífico ocidental, devido a um incêndio no cockpit. Ainda ontem, um A 320 da companhia russa Aeroflot teve de aterrar na Sibéria, com uma fissura no pára-brisas. Anteontem, um Airbus teve fogo num dos reactores. Na véspera um avião da Air China tivera de aterrar em Moscovo, quando rumava a Pequim.
Os especialistas não vêem mais do que coincidências, mas a Airbus teve de emitir uma nota, dizendo que "não há motivos para relacionar esses casos individuais, que ocorreram com aviões de outras companhias, com o acidente do voo 447 da Air France".