Emigrantes na Alemanha pouco envolvidos nas eleições parlamentares. Mas são fãs de Angela Merkel e já têm saudades da chanceler que vai abandonar o poder no domingo.
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A Alemanha vai a votos depois de amanhã e esta eleição parlamentar, a de maior suspense no espaço de uma geração, verá a chanceler Angela Merkel deixar o cargo após 16 anos de poder. A votação está polarizada e a acirrada disputa pela sucessão envolve o social-democrata Olaf Scholz, do SPD, partido de centro-esquerda, que desfruta de uma pequena vantagem sobre Armin Laschet, o candidato democrata-cristão da CDU/CSU, o partido de Merkel.
Integrados na incontestada maior economia da Europa estão 138 mil emigrantes portugueses - a maioria não vota nas eleições nacionais, estatuto dado aos emigrados com dupla nacionalidade -, que seguem de forma mais ou menos passiva o compasso eleitoral.
"Os portugueses aqui na Alemanha não se metem muito na política, passa-nos tudo um bocadinho ao lado", diz ao JN Pedro Loureiro, programador de robôs do setor automóvel. Em 2012 emigrou para Sindelfingen, pequena localidade da zona de Baden-Wurttemberg, a 30 km de Estugarda, região industrial que concentra 48% dos emigrantes portugueses. "Acho que todos os emigrantes são assim, não querem dar nas vistas. Mas a mudança vai ser forte", avisa Loureiro, "vai sentir-se muito a saída de Merkel. Ela é uma figura tutelar, é muito importante, e já tem o seu lugar na História".
As coligações é que decidem
Com duas preocupações centrais - manter o emprego e ver recuperar a economia no pós-pandemia - o emigrante de 42 anos, natural de Abrantes, que vive com a mulher e tem um filho recém-nascido, diz ter perdido 40% do rendimento devido às quarentenas de abril a setembro de 2020. Por isso, a sua aposta é "mexer o menos possível". Acredita que "o SPD de Scholz deve ganhar", mas "preferia uma coligação continuada com a CDU, que não virasse muito à Esquerda e continuasse no Centro".
"Os portugueses aqui não estão preocupados. Somos bem-vindos, bem vistos e bem tratados", diz José Soares Ruivo, 65 anos, emigrado em Meschede, a 150 km de Dusseldorf, a segunda região que mais atrai os nossos emigrantes.
Natural de Pombal, benfiquista, reformado de uma firma automóvel - "aqui ganha-se o triplo, o salário normal na minha firma é 3 mil euros" -, é fã tenaz de Merkel. "Sim, sou, ela é espetacular! Ela é que é a chefe de todos nós, dos alemães, dos europeus, inclusive dos portugueses. Tenho pena que saia", diz Ruivo, que também admirava Willy Brandt - "era o chanceler quando aqui cheguei, em 1970" - e Gerhard Schröder, outro chefe de Governo social democrata. "Acho que o SPD vai ganhar, mas as coligações é que decidirão depois tudo. Gostava que se juntassem com o FDP, que é parecido com o PS aí de Portugal", diz.
Vítor Rodrigues, 55 anos, emigrado em Hamburgo desde 1976, onde tem a família e a oficina de carros, vai votar no SPD. "Tenho dupla nacionalidade, sim. Aqui prefiro votar mais à Esquerda; se fosse em Portugal, eu sou de Setúbal, votava à Direita". É fã de Merkel - "grande mulher, grande serviço fez à Alemanha e à Europa" - e diz que a chanceler fê-lo ganhar orgulho na Alemanha, "o país que me dá o meu ganha-pão".
Reformado de um rent-a-car, 66 anos, natural de Oliveira de Frades, Fernando Almeida vota nas eleições locais e até já foi candidato, em 2011 e 2015, à Câmara de Augsburg, a 60 km de Munique, pela União Social Cristã (CSU), convidado por Merkel. "Não entrei, não estava em lugar elegível, foi pena". Torce por uma vitória da CDU/CSU, mas não gosta de Armin Laschet, que lhe parece "fraco" e por isso antecipa a vitória do SPD.
Tem pena, "mesmo pena" é de ver a chanceler sair. "Ai, Merkel era uma mulher política excelente, pulso firme, grande visão, nenhum dos candidatos lhe chega aos pés. Esse é que vai ser o principal resultado eleitoral: ficarmos sem a Angela Merkel".