Emissora condenada a pagar indemnização a jornalista despedida por publicação sobre Gaza
A emissora pública da Austrália foi condenada, esta quarta-feira, a pagar uma indemnização a uma jornalista despedida devido a uma publicação nas redes sociais relacionada com o conflito entre Israel e Gaza.
Corpo do artigo
A jornalista Antoinette Lattouf entrou com uma ação judicial após ser demitida em dezembro de 2023, apenas três dias após iniciar um contrato temporário de cinco dias com a ABC. Foi despedida por republicar no Instagram uma reportagem em vídeo da Human Rights Watch sobre o conflito em Gaza com o comentário: "A HRW relata a fome como uma ferramenta de guerra".
O juiz do Tribunal Federal Darryl Rangiah disse anteriormente que a emissora violou a lei laboral ao demitir Lattouf "por motivos que incluem o facto de ter opiniões políticas contrárias à campanha militar israelita em Gaza".
Na quarta-feira, Rangiah disse que as infrações da ABC causaram "consequências muito significativas" para Lattouf. "Para a maioria das pessoas, o emprego não é apenas uma fonte de rendimento, mas contribui substancialmente para o seu senso de propósito, identidade e autoestima", afirmou.
A emissora foi condenada a pagar 98.900 dólares (83.991 euros), além dos 46.100 dólares (39.151 euros) determinados anteriormente este ano. O valor deve ser pago em até 28 dias.
A ABC gastou "bem mais de dois milhões de dólares do dinheiro dos contribuintes a lutar contra mim", referiu a jornalista, nas redes sociais na terça-feira. "Seja qual for a penalidade, para mim isto nunca foi uma questão de dinheiro. Sempre foi uma questão de responsabilidade e integridade das informações que a nossa emissora pública nos dá. Espero que a ABC aproveite esta oportunidade para restaurar a credibilidade, reconquistar a confiança e restabelecer a integridade, porque a nossa democracia depende de um quarto poder forte".
O diretor administrativo da ABC, Hugh Marks, disse que a emissora "continuaria a refletir sobre as conclusões do Tribunal". "Levamos o assunto a sério e refletimos sobre as lições aprendidas e as suas implicações. Precisamos de melhorar", sublinhou.
Israel está sob pressão internacional por causa da guerra em Gaza, que desencadeou uma crise humanitária no território palestiniano. No mês passado, um organismo apoiado pelas Nações Unidas declarou oficialmente fome em parte de Gaza. Em 16 de setembro, investigadores da ONU acusaram Israel de cometer "genocídio" no território sitiado, quase dois anos após o início da guerra após o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023.