Encontro entre Lavrov e Guterres gera indignação entre ucranianos e líderes europeus
O encontro, esta semana, entre o chefe da diplomacia russa e o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, causou indignação junto de ucranianos e políticos europeus, que criticaram António Guterres por receber Serguei Lavrov.
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Os detalhes do encontro entre ambos os líderes vieram da parte do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, que, na quarta-feira, no seu site, divulgou uma fotografia do aperto de mãos entre Guterres e Lavrov, gerando reações adversas nas redes sociais.
"Inacreditável", escreveu na plataforma X (antigo Twitter) o ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, partilhando também ele uma fotografia do momento do aperto de mãos.
O deputado neerlandês Ruben Brekelmans foi outro dos políticos a juntar-se às críticas, considerando o momento "uma chapada na cara dos ucranianos".
"Dia 700 da guerra de agressão russa na Ucrânia, com mais um bombardeamento de alvos civis. Ótima oportunidade para Guterres tirar uma bela foto com Lavrov. Completamente desnecessário e uma chapada na cara dos ucranianos", avaliou.
De acordo com o Governo russo, o encontro aconteceu na terça-feira e resultou numa "discussão substantiva sobre vários aspetos da cooperação entre a Rússia e a ONU, assim como sobre questões-chave da agenda internacional".
"Ambas as partes salientaram a importância de reforçar ainda mais o papel central de coordenação das Nações Unidas na política global, tendo em conta toda a gama de opiniões dos seus Estados-membros", diz o comunicado.
Serguei Lavrov também "enfatizou que é imperativo que todos os membros do Secretariado da ONU observem rigorosamente os princípios de imparcialidade e equidistância, em total conformidade com a Carta da ONU", tratado fundamental das Nações Unidas que a Rússia é acusada de romper com a invasão da Ucrânia.
O encontro entre os dois líderes já havia sido anunciado na semana passada pelo porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, que, na ocasião, não adiantou os assuntos que seriam abordados. Contudo, ao longo dos três dias que passou em Nova Iorque, Lavrov participou em reuniões sobre as guerras no Médio Oriente e na Ucrânia e manteve reuniões bilaterais e entrevistas.
Entre os ucranianos a quem este encontro não agradou está Anton Gerashchenko, antigo conselheiro do Ministério da Administração Interna da Ucrânia, que questionou: "Como é que um representante de um Estado terrorista assassino é aceite na ONU ao mais alto nível?".
Lavrov aproveitou a sua passagem pelas Nações Unidas, concluída na quarta-feira, para reiterar críticas à Ucrânia e Estados Unidos, mas também para tentar sossegar os países-membros quanto às intenções de Moscovo.
O ministro advogou que a Rússia não tem a necessidade de atacar ninguém, considerando que declarações feitas em sentido contrário por vários políticos europeus e da NATO são "absurdas".
Sobre o conflito em Gaza, Serguei Lavrov rejeitou a utilidade de uma conferência de paz no Médio Oriente e disse que seria "uma perda de tempo" se não for alcançada através de uma união prévia de todas as alas palestinas.
Serguei Lavrov aproveitou ainda a atenção internacional para acusar a Ucrânia de um "ataque terrorista" ao abater um avião militar russo que transportaria dezenas de soldados ucranianos capturados para uma troca de prisioneiros.
O ministro anunciou que Moscovo convocou uma sessão de emergência no Conselho de Segurança da ONU sobre o incidente, prevista para se realizar na tarde de hoje.