Se em muitos países o fim das medidas para colmatar a pandemia está cada vez mais próximo, noutros pontos do planeta as restrições persistem e fazem crescer a revolta da população. Inspirados pelo movimento de protestos no Canadá, muitos estados assistem a manifestações semelhantes.
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Quase dois anos depois do início da pandemia, alguns estados já informaram que vão começar a tratar a covid-19 como uma endemia. Em Espanha, na Dinamarca ou no Reino Unido, o alívio de restrições está mais perto. Noutros países, as medidas sanitárias têm sido mantidas, o que está a causar um grande descontentamento por parte da população. Com a variante ómicron a predominar na maioria dos contágios, o Mundo evolui a duas velocidades.
Canadá
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Foi no Canadá que teve origem um movimento contra as medidas para conter a pandemia. Os manifestantes protestam contra uma norma que entrou em vigor a 15 de janeiro a exigir que os camionistas estejam totalmente imunizados contra o novo coronavírus. A onda de protestos fez com que centenas de camiões bloqueassem algumas das principais cidades canadianas, obrigando o Governo a decretar estado de emergência em Otava. Também a Ambassador Bridge, que liga Detroit e Windsor (Ontário), viu o tráfego condicionado.
Semanas após o caos se ter instalado no país, várias províncias optaram por levantar algumas restrições. Saskatchewan, Quebeque e Ilha do Príncipe Eduardo anunciaram na quarta-feira planos para reverter algumas ou todas as medidas. Também a cidade de Alberta seguiu o mesmo caminho, deixando ainda de exigir imediatamente o certificado de vacinação em locais como restaurantes. No final do mês, será a vez do uso das máscaras.
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O movimento iniciado no Canadá tem inspirado outras manifestações no resto do Mundo. Na Nova Zelândia, as autoridades detiveram na quarta-feira mais de 50 manifestantes que se impuseram contra a obrigatoriedade da vacinação, no terceiro dia de protestos junto do Parlamento, em Wellington. Os detidos "enfrentam acusações de invasão e obstrução", de acordo com um comunicado publicado na página da Internet da polícia neozelandesa.
O Governo de Jacinda Ardern, que implementou uma das políticas mais duras de confinamento e encerramento das fronteiras devido à covid-19, anunciou na semana passada que vai começar a reabrir as fronteiras internacionais a partir do final deste mês.
Os neozelandeses que se opõem à vacina constituem um pequeno fragmento da população geral, já que 95% das pessoas com 12 anos ou mais estão agora vacinadas com duas doses.
Austrália
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Em Camberra, capital da Austrália, os ânimos também se têm exaltado e espera-se que as manifestações se prolonguem até ao final desta semana. A maior parte dos manifestantes, que se reuniram junto do Parlamento, mostravam cartazes com a palavra "liberdade", mostrando-se descontentes com as medidas que o país implementou para conter os contágios.
Na terça-feira, porém, o Governo anunciou que vai reabrir as fronteiras para turistas totalmente vacinados contra a covid-19 a 21 de fevereiro, anunciou o primeiro-ministro australiano, que implementou uma das políticas mais restritivas do Mundo.
França
Na Europa, a polícia francesa informou na quarta-feira que os comboios da liberdade, inspirados pelo movimento lançado no Canadá, serão proibidos em Paris. "Será criado um mecanismo específico (...) para evitar bloqueios de estradas, e para multar e prender os infratores", referiram as autoridades, numa declaração.
A decisão da polícia surge depois de milhares de pessoas que se opõe ao certificado de vacinação anunciarem nas redes sociais a intenção de se deslocarem para Paris para condicionar a capital francesa com protestos. Na quarta-feira, vários comboios partiram de algumas cidades do sul de França com o objetivo de chegar a Paris na sexta à noite.
A dois meses das eleições presidenciais, um porta-voz do Governo reconheceu a exaustão da população diante da pandemia, mas garantiu que França "era um dos países que adotaram menos medidas restritivas".
Países mais perto da normalidade
Em sentido inverso ao que está a acontecer em algumas zonas do planeta, há países que caminham a passos largos para regressarem à tão desejada vida normal.
Espanha
Depois de ter informado que o país iria começar a tratar a covid-19 como uma gripe, Espanha entra nesta quinta-feira numa nova fase do desconfinamento. A partir de hoje os "nuestros hermanos" já não precisam de usar máscara ao ar livre. A exceção são grandes eventos, onde as máscaras devem ser usadas se as pessoas estiverem de pé e não conseguirem manter uma distância superior a um metro e meio.
O elemento de proteção pessoal também deixa de ser obrigatório nos recreios das escolas. As medidas, que são acompanhadas por recomendações do Ministério da Saúde que frisa que a população deverá continuar a ter cuidados, causam uma sensação de alívio num dos países mais afetados pela pandemia.
Reino Unido
Por terras de "Sua Majestade", o fim das medidas contra a pandemia já começa a ser vislumbrado pela população, depois do primeiro-ministro, Boris Johnson, afirmar que estas podem ser totalmente extintas dentro de duas semanas, o que inclui o fim da exigência de isolamento após teste positivo.
O governante britânico frisou que a possibilidade de haver uma mudança drástica "mostra que o trabalho duro da população está a valer a pena". Boris Johnson explicou que irá apresentar uma "estratégia para viver com a covid-19" a 21 de fevereiro, sendo que só nesta altura se conhecerão medidas concretas.
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EUA
Nos EUA, um dos países mais atingidos pela pandemia, vários estados, sobretudo governados por democratas, começaram a autorizar o abandono do uso de máscara. Na quarta-feira, Massachusetts, Illinois, Nova Iorque e Rhode Island juntaram-se à Califórnia, Connecticut, Delaware, Nova Jersey e Oregon para suspender o uso de máscara em alguns locais públicos.
Embora as infeções tenham vindo a cair, os EUA ainda têm uma média de mais de 230 mil casos por dia, o que leva a que muitos especialistas critiquem a ausência de regras de forma tão imediata.
Dinamarca
Na Dinamarca, a população tem vivenciado grandes mudanças, depois de na semana passada ter sido autorizada a viver de forma livre. Sem máscaras, distanciamento social ou teste, os dinamarqueses voltaram à normalidade e encaram a doença como uma endemia, o que significa que o vírus deixa de ser visto como uma emergência de saúde.
Apesar do cansaço da população, a OMS tem vindo a alertar que é essencial que os países se mantenham atentos, uma vez que novas variantes podem surgir e mudar o rumo da evolução pandémica.