Raúl deixa cargo de primeiro secretário do Partido Comunista para o chefe de Estado, Miguel Díaz-Canel. Linha política deverá manter-se.
Corpo do artigo
É o fim de uma era: Cuba deixa de estar nas mãos de um Castro. Depois de Fidel, fundador do Partido Comunista Cubano, único partido da ilha, e líder da revolução de 1959, Raúl, seu irmão e companheiro de luta, deixou, ao fim de dez anos, a liderança partidária. A decisão foi tomada durante o 8.º Congresso, que terminou ontem, em Havana, e marca um virar de página na História do país. A linha política deverá manter-se, já que o mais alto posto da hierarquia passa a ser ocupado por Miguel Díaz-Canel, presidente cubano, o "homem que soube fazer parte da equipa".
Ministro da Defesa por quase meio século e braço-direito do irmão, Raúl Castro decidiu, aos 89 anos, afastar-se, para dar o exemplo e o lugar à continuidade. "Termino a minha tarefa como primeiro secretário com a satisfação de dever cumprido e com a confiança no futuro da pátria", disse. Um futuro que não se prevê fácil, já que o país não enfrenta apenas a crise pandémica, mas, também, uma crise económica e social.
Herdeiro de uma Cuba em profunda crise, Raúl prometeu, um anos depois de tomar posse, em 2007, "mudanças estruturais e concetuais". De facto, implementou algumas reformas e levantou sanções que tiveram forte impacto na economia cubana. Mas voltou a sofrer um duro golpe com a retirada dos apoios da Venezuela e com as sanções implementadas por Donald Trump, ex-presidente norte-americano.
Novo líder não surpreende
Não conseguiu, durante o seu mandato, fazer de Cuba um país livre de crise e passou o testemunho partidário num momento em que o PIB caiu 11%, a pior queda dos últimos 30 anos. Vai caber agora a Díaz-Canel, conhecido por ter um estilo político mais moderno e por representar uma geração que quer uma maior abertura económica, resolver os problemas.
A passagem de testemunho não surpreendeu, uma vez que, em 2018, Raúl deixou claro que, se tudo corresse bem, Díaz-Canel, que, naquele ano, se tornou chefe de Estado, seria eleito primeiro secretário do Partido Comunista Cubano. "A Geração do Centenário, fundadora e guia do partido, entrega responsabilidades" a uma geração mais jovem e de continuidade, escreveu o novo líder, na sua página da rede social Twitter.
O virar de página na governação partidária, que passa, pela primeira vez em 60 anos, para as mãos de um civil, anuncia uma nova época de desafios. As fragilidades do país são visíveis. Segundo o repórter do jornal espanhol "El País" em Cuba, o povo faz filas para conseguir comprar comida - que escasseia devido à falta de abastecimento -, o que se torna difícil devido à complexa reforma monetária, em vigor desde janeiro, que fez com que os cubanos perdessem grande parte do poder de compra.
Além disso, graças à expansão da Internet na ilha, crescem nas redes sociais movimentos liderados por ativistas, artistas e intelectuais contra o regime, classificados pelo partido como "subversão" política e ideológica.