Um pouco por toda a Europa, os governos tentam conciliar a importância do ensino presencial, como fonte de igualdade entre os alunos, com o combate à nova vaga de covid-19, impelida para novos recordes com a variante ómicron.
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Alguns países europeus retomaram as aulas durante a semana que agora termina, com outros, poucos, a estenderem as férias de Natal por mais uns dias, agendando o regresso às aulas para dia 10, tal como em Portugal.
É um regresso marcado pela progressão acelerada da variante ómicron, com o reforço dos testes e o uso da máscara como medidas principais de prevenção, aliadas a melhorias da ventilação e ao distanciamento social.
A forma de lidar com uma turma quando surge um caso positivo num aluno varia. Desde o fecho da turma à continuação das aulas, enquanto houver testes negativos entre os colegas de sala de aula.
Espanha regressa na segunda-feira
Alunos de escolas e universidades espanholas regressam às aulas presenciais no dia 10, segunda-feira, garantiu a ministra da Saúde, Carolina Darias, na terça-feira, apesar de o recorde de casos de covid-19 provocado pela ómicron.
A taxa de incidência, a 14 dias, em Espanha, atingiu um máximo de 2433 casos por 100 mil habitantes, na terça-feira.
Dirigentes de 17 regiões espanholas, que definem a própria política de saúde, votaram a favor do regresso às aulas na terça-feira, num raro exemplo de unanimidade, num país atreito a frequentes divergências políticas.
As máscaras serão obrigatórias para todos os alunos maiores de seis anos e compete às escolas garantir ventilação adequada. As administrações regionais vão tentar cobrir as faltas dos professores ausentes por infeção.
Segundo o ministério da Saúde de Espanha, 90% dos espanhóis com mais de 12 anos receberam duas doses da vacina. Entre os cinco e os onze anos a percentagem é de cerca de 33%.
Itália aposta nas máscaras FFP2 e aperta regras para o regresso
A Itália também optou pelo regresso às aulas no dia 10, com regras mais apertadas. As máscaras FFP2, largamente usadas pelos transalpinos, vão ser distribuídas nas escolas.
O anúncio do regresso não agradou a todos, com cerca de 1500 diretores escolares italianos a assinarem uma petição a pedir o adiamento do regresso presencial das aulas e o retorno às aulas online, durante as próximas duas semanas. Um apelo dirigido ao primeiro ministro Mario Draghi, ao ministro da Educação, Patrizio Bianchi , e aos presidentes das diferentes regiões e províncias de Itália. Os diretores argumentam com o elevado número de professores, funcionários e alunos infetados com covid-19 atualmente naquele país.
Entretanto, a Agência Farmacêutica Italiana (AIFA) autorizou, sexta-feira, a administração do reforço contra a covid-19, ainda que apenas da vacina da Pfizer-BioNTech, para jovens entre os 12 e os 15 anos.
Itália tem atualmente 89,13% da população com mais de 12 anos vacinada com pelo menos uma dose e 86,07% com a vacinação completa, enquanto 67,67% já poderá receber a dose de reforço. Também 10,98% das crianças entre os cinco e os 11 anos já foram inoculadas com pelo menos uma dose, mas apenas 0,01% tem o esquema de vacinação completo.
França voltou na segunda-feira mas já tem muitos professores ausentes
Em França, cerca de 12 milhões de estudantes regressaram à escola na segunda-feira, com novas regras para tentar mitigar a progressão do vírus, que atingiu um recorde de 332 mil casos na quarta-feira. Crianças com seis anos ou mais são obrigadas a usar máscara. Se um aluno testar positivo, o resto da turma tem de ter três testes negativos nos quatro dias seguintes ou a turma vai para casa.
Um regresso contestado e aos trambolhões. A falta de professores devido aos casos de covid-19 está a ter um forte impacto, havendo atualmente 7% de professores infetados. Absentismo dos professores não deve ultrapassar os 15% nos próximos dias.
O Conselho Científico de França, um painel de cientistas que aconselha o Governo em questões de covid-19, avisou que "pelo menos um terço" dos professores poderá estar de baixa até ao fim do mês de janeiro devido à progressão da ómicron.
De forma a travar as contaminações na escola, o Governo anunciou, quinta-feira, a distribuição gratuita de máscaras cirúrgicas em todos os estabelecimentos de ensino. Até agora, os professores em França tinham recebido apenas máscaras em tecido, embora os sindicatos peçam máscaras FFP2, ameaçando fazer greve se não as receberem e exigiram regras mais rígidas para a suspensão de turmas quando detetado um caso positivo.
Dados do canal France 24, a taxa de incidência, a 14 dias, entre crianças dos seis aos dez anos, era de 1339 por 100 mil. Os dados indicam ainda que há 295 crianças, com idades até aos nove anos, hospitalizadas em França devido à covid-19.
Especialistas em Saúde Pública escreveram ao ministro da Saúde francês, Oliver Véran, a apelar ao adiamento do regresso às aulas e ao aumento da ventilação. "Tememos uma onda sem precedentes, nas próximas semanas, de admissões de crianças com síndrome de inflamação multissistémica, assim como efeitos relacionados, em alguns casos, com formas longas da doença, o chamado covid longo", escreveram os especialistas.
O governo francês recusou e avançou com a abertura das escolas, argumentando que as novas regras que diferenciam vacinados e não vacinados vão proteger os alunos e os funcionários.
Alemanha enche salas de aulas a várias velocidades
As máscaras são absolutamente necessárias, defende o governo federal alemão. As aulas começaram na segunda-feira em seis dos 16 estados federados da Alemanha e a meio da semana em outros dois, enquanto os alunos dos restantes "Länder" voltam às escolas na semana seguinte, após as férias de Natal. A exceção é a Turíngia, que anunciou aulas online nas próximas duas semanas.
Em Berlim, um dos estados federais que reabriu as escolas na segunda-feira, o ministro local da Educação disse que as crianças seriam testadas três vezes na primeira semana de aulas, com exceção das vacinadas.
Na segunda-feira, a nova ministra da Educação, Bettina Stark-Watzinge, advogou que as aulas presenciais são fundamentais para a a igualdade de oportunidades entre os alunos e defendeu que tudo deve ser feito para manter as escolas abertas.
Uma posição ao agrado dos pediatras alemães, cuja associação nacional defendeu a abertura das escolas, enfatizando a importância do ensino presencial. Do outro lado da mesa, em sentido literal e figurado, os professores manifestaram-se preocupados e defenderam que as escolas não devem manter-se abertas "a qualquer custo".
Até ao último dia do ano, 74,2% da população (61,7 milhões de pessoas) tinha sido vacinada na Alemanha, 71,2% (59,2 milhões) com o esquema completo, e 38,7% (32,2 milhões) tinha recebido a dose de reforço.
Ventilação e máscaras são apostas de outros países
As máscaras são obrigatórias para todos os alunos e funcionários na Áustria e as FFP2 são obrigatórias para maiores de 16 anos. Há testes à covid-19 três vezes por semana nas escolas austríacas, sendo que pelo menos um destes tem de ser PCR.
Na Bélgica, a grande preocupação é a ventilação das salas de aula. Foram reforçados os fundos para a compra de monitores de dióxido de carbono e de autotestes. Na região da Valónia, é obrigatório o uso de máscaras, tanto para alunos como funcionários e professores, e as turmas são suspensas se dois alunos testarem positivo numa semana.
Os Países Baixos entraram em confinamento a 19 de dezembro, para tentar parar a quinta vaga de covid-19 devido à variante ómicron. Todas as lojas não essenciais, restaurantes, bares, cinemas, museus e teatros estão fechados até 14 de janeiro, enquanto as escolas vão estar fechadas pelo menos até 9 de janeiro.
O ministro holandês da Educação, Arie Slob, disse que os alunos regressam à escola na segunda-feira, após as férias de Natal, que foram alargadas de duas para três semanas, como em Portugal, devido à covid-19.
Na Grécia, as aulas também recomeçam no dia 10, anunciaram os ministros da Educação, Niki Kerameus, e da Saúde, Thanos Plevris. "Nada substitui as aulas presenciais. É fundamental para o desenvolvimento psicológico e emocional dos alunos que estejam com colegas e professores", justificaram, em conferência de Imprensa.
O regresso às aulas na Grécia obedece a regras mais restritas. Deve ser feito um teste extra na semana de 10 a 15 de janeiro, ou três autotestes por semana, em vez de dois, providenciados de forma gratuita pelas farmácias. Professores e alunos vacinados devem fazer dois autotestes por semana. Em caso de infeção, será testada toda a turma, não apenas aqueles sentados perto da pessoa infetada, como até agora.
No Reino Unido as regras não são uniformes
No Reino Unido, as escolas esperam proporcionar aulas presenciais a alunos de todos os graus de ensino durante este período, providenciando aulas online para estudantes ausentes ou em isolamento.
As escolas reabrem entre esta e a próxima semana com uma variedade de restrições aplicáveis aos quatro Estados diferentes que compõem o Reino Unido, que registou recordes de infeções pelo coronavírus nos últimos dias, chegando a quase 190 mil casos na véspera de Ano Novo. Especialistas preveem que o pico pode ser alcançado em breve.
O ministro da Educação, Nadhim Zahawi, anunciou sete mil purificadores de ar para instalar em zonas mal ventiladas dos estabelecimentos de ensino, mas os sindicatos do setor da educação consideraram esse número insuficiente, alegando que há pelo menos 300 mil salas de aula.
Em Inglaterra, as aulas recomeçaram esta semana, com a obrigatoriedade do uso de máscara nas escolas para os alunos do secundário, tanto nas salas de aulas como nas áreas comuns. A medida vai ser revista a 26 de janeiro.
No País de Gales, as escolas devem reabrir no dia 10 de janeiro, na próxima segunda-feira, com a obrigatoriedade de três testes semanais à covid-19 (dois no resto do Reino Unido).
Na Irlanda do Norte as escolas reabriram com as mesmas medidas aplicadas no período anterior, enquanto na Escócia o distanciamento social é o principal foco das autoridades de saúde, que exigem aos professores o uso de máscara quando estiverem em contacto próximo com os alunos.