Os serviços secretos espanhóis estão a investigar a morte de Maxim Kuzminov, o piloto russo que desertou na Ucrânia e se refugiou em Alicante, e acreditam que o assassinato foi cometido por um grupo de mercenários contratados pelo Kremlin.
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Em agosto do ano passado, o piloto russo Maxim Kuzminov desertou para se entregar ao Exército ucraniano com o helicóptero que dirigia, depois de as autoridades de Kiev lhe terem oferecido proteção e uma compensação financeira. Acabou por se refugiar em Alicante, em Espanha, mas acabou por ser assassinado. O corpo do ex-combatente do 319.º Regimento Separado de Helicópteros da Aviação Militar Russa foi encontrado, a 13 de fevereiro, numa garagem num prédio no bairro de Villajoyosa e as autoridades espanholas estão a tentar desvendar o mistério em torno do caso.
Os serviços secretos de Espanha, que estão a colaborar com a Polícia Judiciária na investigação, acreditam que o piloto de 28 anos foi morto por homens contratados pelo Kremlin que se deslocaram a Espanha com o único intuito de silenciar o desertor que, aquando da fuga para Alicante, denunciou o "genocídio" que estava a ser perpetrado pela Rússia.
A única dúvida que paira, revela o jornal espanhol "El País", é se o crime foi ordenado pelo Serviço de Informação Estrangeiro (SVR, sigla em inglês) - cujo diretor felicitou o assassinato aos meios de comunicação russos -, pelo Serviço Federal de Segurança (FSB, sigla em inglês), antigo KGB, ou pelo Serviço de Inteligência Militar (GRU), uma vez que Kuzminov era capitão e estava sob a alçada do organismo. No entanto, fontes dos serviços secretos adiantaram ao diário que será muito difícil encontrar provas do envolvimento de qualquer um dos serviços ligados a Moscovo na morte do desertor russo.
Telefonema para a namorada foi fatal
Os investigadores acreditam que os mercenários contratados pelas autoridades russas são estrangeiros e, por esta altura, já não estarão em Espanha. Os especialistas descartaram ainda uma eventual participação da Embaixada da Rússia no país na operação, mas realçam que os assassinos ao serviço do Kremlin tiveram de realizar um trabalho de vigilância minucioso antes de dar o golpe fatal, o que terá passado por monitorizar as rotinas da vítima.
O trabalho de controlo dos mercenários - que não se sabe por quanto tempo se terá prolongado - também terá sido facilitado pelo facto de o soldado ser pouco discreto nas suas movimentações. Segundo fontes dos serviços secretos ucranianos, a pista que conduziu as autoridades russas até Kuzminov terá sido um telefonema que o piloto fez para a ex-namorada, que vive na Rússia, convidando-a para visitá-lo em Alicante - província espanhola onde vivem mais russos (cerca de 17 500).
Kuzminov achou que passaria despercebido assim que se mudasse para o bairro de Villajoyosa, em Alicante, usando documentos falsos, mas acabou por ser encontrado pelo inimigo, até porque, segundo fontes ouvidas pelo jornal espanhol, o piloto nunca requereu qualquer tipo de proteção ao país.
O assassinato do desertor está agora a preocupar a comunidade local. À Reuters, a vice-líder do grupo Russos Livres em Espanha, Yulia Taran, explicou que a organização tem ajudado outros desertores russos nos últimos dois anos, desde que começou a guerra na Ucrânia, e que era normal usarem identidades falsas para "não serem encontrados pelos agentes do presidente Vladimir Putin". Como tal, "estão muito preocupados" com o que possa acontecer naquele reduto, refere a responsável, mostrando-se esperançosa no trabalho das autoridades espanholas.
O Governo de Espanha tem sido cauteloso nas declarações sobre o caso, mas já garantiu que se o envolvimento das autoridades russas no assassinato de Kuzminov se confirmar será dada uma resposta em conformidade.