País recupera a normalidade pouco a pouco. As causas do colapso que deixou toda a península às escuras ainda não são conhecidas.
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Depois de um dia próprio da série de ficção mais distópica, Espanha está a voltar à normalidade. Às 8 horas da manhã desta terça-feira, 99% do país já tinha eletricidade depois de um apagão completo que afetou também Portugal. O Conselho de Segurança Nacional reuniu-se esta manhã, presidido, pela primeira vez na História, pelo rei e, ainda sem explicação para o que aconteceu, o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, garantiu que "isto não pode voltar a acontecer jamais".
"O Governo vai chegar até ao fundo deste assunto, vão ser feitas as reformas necessárias, vão ser tomadas as medidas pertinentes para que isto não volte a acontecer. E, evidentemente, vamos exigir responsabilidades aos operadores privados", disse o primeiro-ministro no fim da reunião. "Os técnicos da rede elétrica continuam a analisar os seus sistemas, as empresas privadas de produção de energia estão a realizar análises de telemetria dos seus centros de gestão e produção. Algo que nos deverá permitir conhecer com maior detalhe o que se passou naqueles cinco segundos que precipitaram o colapso do sistema", declarou.
Naqueles cinco segundos "desapareceram 15 gigawatts de forma súbita, o que equivale a 60% da energia nesse momento". O sistema colapsou, Espanha ficou às escuras e arrastou Portugal com ela. As causas continuam a ser desconhecidas e o Governo garante que "todas as hipóteses estão em aberto".
A Agência Estatal de Meteorologia já descartou o hipotético fenómeno meteorológico extremo do qual se chegou a falar na segunda-feira, e a Rede Elétrica espanhola garantiu que também não se tratou “de nenhum erro humano”. A investigação preliminar aponta a um problema de perda de geração fotovoltaica no sudoeste da Península que arrastou todo o sistema. A causa ainda está a ser investigada.
Batalha política
A falta de explicações para o sucedido já fez eclodir a polémica política. O Partido Popular (PP) acusa o Governo de dar “explicações evasivas” e ameaça pedir uma comissão de investigação no Congresso. "O Governo tem de assumir a responsabilidade porque o que aconteceu nunca devia ter acontecido e apanhou o Executivo sem um plano de contingência", disse o porta-voz parlamentar do PP, Miguel Tellado.
O partido de extrema-direita, Vox, foi ainda mais longe, insinuou que o Governo está a esconder a verdadeira causa do apagão e pediu “a demissão urgente” do Executivo. “O Governo sabe perfeitamente o que aconteceu e não nos querem dizer. E não querem dizer porque o Governo é o único responsável”, disse Pepe Millán, porta-voz da formação política no Congresso dos Deputados.
A batalha política já tinha descido ao terreno esta terça-feira, com o Governo a decretar a situação de emergência nacional em oito regiões autónomas a pedido das próprias. Trata-se de uma possibilidade contemplada pela Constituição espanhola que implica que o Governo central assuma a gestão de situações de crise, relevando o Governo das autonomias nesse papel. O nível de alerta é decretado a pedido das próprias comunidades que consideram não ter os meios de gestão necessários para enfrentar a crise.
Sete das comunidades autónomas nesta situação, entre elas Madrid, têm governos do Partido Popular e a oitava, Castilla La Mancha, é governada por Emiliano García Page, socialista em eterno conflito com o Governo de Pedro Sánchez.
Recuperar a normalidade
Depois do regresso da eletricidade a todo o território, o desafio era recuperar os serviços e avaliar os danos. Para já, há a lamentar cinco mortes relacionadas com a falha eléctrica. Três pessoas morreram em Ourense devido à má combustão de um gerador; em Madrid, uma mulher morreu devido a um incêndio causado por uma vela, e em Valência, outra mulher faleceu devido à falha na máquina que lhe proporcionava oxigénio. A nível económico ainda é difícil quantificar as perdas, os especialistas falam de estimativas a rondar os 1500 milhões de euros.
Pouco a pouco, o país vai recuperando a normalidade. Quase todos os serviços ferroviários de longa e média distância estão a circular com normalidade, assim como os serviços de alta velocidade. Madrid começou o dia com os comboios suburbanos a funcionar a 50%, mas, entretanto, a circulação já foi completamente recuperada. Na Catalunha, o dia amanheceu sem serviço de comboio suburbano, mas nesta altura 60% da circulação já está recuperada. O metro das duas principais cidades funciona com normalidade, à exceção de uma das linhas de Madrid.
Todos os aeroportos do país estão operacionais. As companhias aéreas estão agora a tentar realocar os passageiros que ficaram em terra ontem. Ainda assim, dos mais de 6000 voos previstos para esta segunda-feira em território espanhol, só 344 foram afetados.
Quanto às escolas, o modo de funcionamento depende da região autónoma em que estão inseridas. Em dez das Comunidades abriram com funcionamento normal, noutras cinco, entre elas Madrid, os centros educativos abriram, mas sem atividade lectiva, e nas restantes duas, Galiza e Castilla-La Mancha, os centros estão fechados.
A recomendação do Governo para esta terça-feira é ainda a de evitar os trajetos em transporte individual, a não ser os estritamente necessários. O Ministério do Trabalho lembrou que existe uma licença remunerada para quem, por motivos de força maior, não possa chegar ao local de trabalho.