Rosto pela igualdade chega a vice-presidente. Sete entre 21 ministérios do Governo de Luanda têm direção feminina. Assembleia Nacional também presidida com sexto sentido.
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Esperança da Costa é a fisionomia de uma certa emancipação feminina e de uma nova elite de anunciada descontinuidade na política de Angola. A discreta secretária de Estado das Pescas da anterior legislatura foi nomeada pelo Comité Central do MPLA - leia-se, por João Lourenço - no segundo lugar da lista de candidatos do partido às eleições de agosto, só atrás do presidente, o que desde logo praticamente lhe garantiu o cargo de vice-presidente da República, de que foi investida na quinta-feira. Pelos corredores políticos de Luanda e do partido de Agostinho Neto, há quem lhe verifique ter dado mais provas na academia do que na vida política, mas esse foi o argumento do chefe de Estado para patrocinar a ascensão da académica que completou a formação em Portugal.
Segundo as biografias publicadas na Imprensa angolana, a vice-presidente da República, Esperança Costa, possui um doutoramento em Fitoecologia (Universidade Técnica de Lisboa, 1991-1997), mestrado em Produtividade Vegetal (Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa - 1990-1992) e licenciatura em Biologia (Faculdade de Ciências, da UAN, Universidade Agostinho Neto - 1978-1985).
Esperança da Costa foi fundadora e diretora do Centro de Botânica da Universidade Agostinho Neto (2010-2020), diretora nacional da Expansão do Ensino Superior do Ministério do Ensino Superior (2007-2010) e vice-reitora para a Expansão Universitária da UAN (2002-2007). Coordenou, ainda, a implementação de instituições de Ensino Superior em diversas províncias do país, incluindo a constituição de cinco universidades públicas.
A bióloga foi coordenadora nacional da Rede de Estudos de Biodiversidade, e também foi por aí, no trabalho de rastreio etnobotânico, que publicou obra, designadamente na recolha e documentação das ancestrais práticas das populações angolanas na utilização de plantas em medicina tradicional, identificando cientificamente as espécies vegetais descritas, para estudos futuros.
"Mudança de paradigma"
Foi também a todo este lastro científico e académico que João Lourenço se referiu quando, no discurso da tomada de posse, aludiu a "uma mudança de paradigma", para combater "vícios" e "más práticas enraizadas nas instituições do Estado". E ainda que a oposição angolana observe a Esperança da Costa os laços de amizade com a primeira-dama, Ana Lourenço, a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-presidente da República na história da democracia angolana representará uma certa reaproximação à longa tradição do matriarcado africano.
O próprio João Lourenço dispôs-se, desde a tomada de posse, a eleger a igualdade de género como um dos desafios para a próxima legislatura. A Promoção da Mulher tem pasta própria, dirigida por Faustina Fernandes, outra mulher altamente qualificada, como tantas outras das elites angolanas que estudaram no estrangeiro ou que concluíram a formação da Universidade Agostinho Neto com mestrados e doutoramentos nas melhores universidades do Mundo, Licenciada na Alemanha, em Fisioterapia Neurológica, Faustina Fernandes é uma das sete mulheres do Governo composto por 21 ministros.
Vera Daves (segundo o portal do Governo, também estudou em Portugal, no Instituto de Formação Bancária) mantém-se à frente do Ministério das Finanças. Outras cinco ministras assumiram funções: Teresa Rodrigues Dias (Administração Pública, Trabalho e Segurança Social), Maria Sambo (Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação), Sílvia Lutucuta (Saúde), Luísa Grilo (Educação) e Ana Paula Neto (Juventude e Desporto).
Para a anunciada libertação de género contribuiu, ainda, a eleição de Carolina Cerqueira (ex-ministra dos Assuntos Sociais) para um dos mais altos cargos da nação, o da presidência da Assembleia.
Trio no top
Três dos primeiros cinco candidatos do MPLA às eleições eram mulheres. Além de Esperança da Costa, Carolina Cerqueira (ministra dos Assuntos Sociais) e Luísa Damião (vice-presidente do MPLA). O quinto lugar era de Bornito de Sousa, então vice-presidente da República em exercício
Gestão Florestal
Entre 1986 e 1990, Esperança da Costa desenvolveu o Herbário de Luanda. Foi representante de Angola na African Biosciences Network. Especialista em gestão florestal, a bióloga terá ação determinante nos anunciados programas de educação ambiental, com vista a desencorajar a desflorestação e as queimadas.