Esquerda lidera sondagens à primeira volta no Chile em eleições dominadas pela segurança

Jeannette Jara poderá vencer hoje, mas sondagens apontam derrota na segunda volta
Foto: AFP
Jeannette Jara, comunista que lidera uma ampla coligação de Esquerda no Chile, segue à frente nas sondagens das eleições presidenciais chilenas, neste domingo. Logo atrás, segue José Antonio Kast, ultraconservador e que tem no crime e imigração os temas de eleição. Lidera a área política da Direita, num campo muito fragmentado, mas deverá sair vencedor no mais que provável cenário de segunda volta, a 14 de dezembro.
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Kast, admirador de Pinochet pela oposição ao aborto e casamento de pessoas do mesmo sexo, lidera um campo repleto de candidatos de Direita que tentam superar-se, com promessas de tratamento severo para criminosos e imigrantes ilegais, numas eleições em que oito candidatos disputam o cargo. Já Jeannette Jara, antiga ministra do Trabalho do Governo do presidente cessante, Gabriel Boric, segue na frente e acusa a Direita de "colocar o ódio, o medo e o desespero no centro" da campanha. "Se votarmos em candidatos de extrema-direita, estamos a retroceder em todos os direitos das mulheres", disse à AFP Michelle Ponce, uma assistente social de 19 anos, apoiante da candidata.
Jara prometeu garantir que "todas as famílias chilenas possam chegar facilmente ao fim do mês". Por outro lado, num comício de campanha do rival, o ultraconservador Kast reiterou a visão de um país onde os que vivem com medo são criminosos enquanto os cidadãos andam livremente, piscando o olho com medidas ao estilo de Trump: discurso "Chilenos primeiro" e até barreiras reforçadas na fronteira, para impedir a entrada de imigrantes. "Sem ordem não há liberdade e sem liberdade não há futuro", insiste.
Jacqueline Ruz, de 56 anos, é apoiante de Kast e confirma, à AFP, que o país está completamente inseguro. "As coisas a que assistimos no último ano nunca foram vistas antes. Precisamos de alguém que tenha uma mão firme", acrescentou Ruz.
Segurança no topo das prioridades
A chegada de gangues criminosas estrangeiras, como Tren de Aragua e Los Pulpos, provocou um aumento da criminalidade violenta no Chile na última década, causando profunda inquietação num país que se orgulha de ser ordeiro. A taxa de homicídios e o número de sequestros duplicaram numa década, tornando a insegurança a principal preocupação dos eleitores antes destas eleições. Ainda assim, desde 2022, a taxa diminuiu 25%, com o plano de Boric "Ruas sem violência", que aumentou a presença policial nas ruas.
Num comício lotado em Santiago, na última semana, Jara acusou a Direita de alimentar deliberadamente o medo, ao recorrer a vidro à prova de bala num comício, num ato que considerou ser performativo. "Não me escondo atrás de nenhum vidro porque não tenho medo do povo chileno", declarou a candidata, de 51 anos.
A iniciativa faz eco das medidas adotadas para proteger o presidente dos EUA, Donald Trump, após de ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato durante a campanha eleitoral de 2024. O Chile, pelo contrário, tem sido largamente poupado à violência política desde o regresso do país à democracia, após uma ditadura militar de 1973-1990. Pressionado sobre a questão num debate televisivo na segunda-feira, Kast recusou-se a dizer se tinha sido informado de uma ameaça à sua vida que justificasse a utilização de vidro à prova de bala.
