Alla Pugacheva abre nova frente de batalha a Vladimir Putin. "A morte dos nossos rapazes por objetivos ilusórios fazem do nosso país um Estado pária e pesa sobre a vida dos nossos concidadãos", afirma a cantora de 73 anos.
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No mundo das cantigas e das variedades da Rússia há um nome incontornável, o de Alla Pugacheva, que é um verdadeiro ícone nacional, o que lhe dá um certo respaldo para criticar e melindrar o Kremlin.
O recente posicionamento público da cantora sobre a ofensiva militar russa na Ucrânia dá disso conta no Instagram, uma rede social onde é seguida por mais de quatro milhões de fãs: "Por favor, incluam-me na lista dos agentes estrangeiros inimigos do meu país amado".
No "post" dirigido ao Ministério da Justiça, a cantora apelou às autoridades russas que a qualificassem como "agente estrangeiro", da mesma maneira que o marido, o ator Maxim Galkin, igualmente crítico da guerra, foi "fichado" pela polícia. Um estatuto cada vez mais usado pelas autoridades para designar os opositores ao regime de Putin.
"Agentes estrangeiros"
"Estou solidária com o meu marido, uma pessoa honesta, íntegra e sincera, um verdadeiro patriota russo, incorruptível, que deseja que a sua pátria prospere e viva em paz, com liberdade de expressão", lê-se na mensagem da cantora.
Os opositores designados como "agentes estrangeiros" são considerados como "inimigos do povo" e ficam submetidos a diversas restrições. Entre outras limitações, é-lhes impedido o trabalho com menores e o ensino em universidades estatais. Incorrem, ainda, em pena de prisão. É o que pode, em último caso, suceder à cantora e ao marido, se o casal não se retratar publicamente.
Nada que fosse previsível ainda há bem pouco tempo. Alla Pugacheva encontrou-se com Vladimir Putin em diversas ocasiões. Em 2009, até recebeu a Medalha da Ordem de Mérito para a Pátria das mãos do então presidente, Dmitri Medvedev.
Pugacheva não é a única celebridade da música e das artes a rebelar-se contra a guerra na Ucrânia. Antes dela, os rappers Oxxxymiron e Noize MC, o ator Ivan Urgant, a lenda do rock Yuri Shevchuk, do grupo DDT, o cantor Andrei Makarevich, fundador da banda rock mais antiga da Rússia, a Mashina Vremeni, e Boris Grebenshchikov, considerado pai do rock russo, tinham todos eles manifestado oposição à ofensiva militar na Ucrânia. Nenhum, contudo, com o alcance social e político de Alla Pugacheva, uma cantora com um nível de popularidade inigualável na Rússia e que vem já dos tempos da União Soviética. A cantora somou os primeiros êxitos em meados da década de 1970. Em 1991, foi agraciada com a medalha de "Artista do Povo da URSS".
"Caça às bruxas"
Retirada dos palcos, nem por isso ficou longe dos holofotes. Casada em quintas núpcias, em 2011 (Galkin, quase três décadas mais novo, tinha então 35 anos), Pugacheva sempre suscitou o frenesim da imprensa russa, como sucedeu com o nascimento dos filhos gémeos do casal, em 2013, com recurso a barriga de aluguer.
Galkin, humorista também conhecido pela interpretação de retratos mais ou menos satirizados, incluindo o de Putin e o do presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, é também opositor declarado do regime e denuncia há vários anos as leis russas anti-LGBTQ+, que qualifica como "uma caça às bruxas", intentada pelo Kremlin para distrair a opinião pública.
E se Pugacheva não se tinha manifestado contra a guerra até ao "post" do Instagram, publicado no domingo, Galkin, que nasceu na Ucrânia, na cidade portuária de Odessa, foi sempre declaradamente contra o ataque russo.