O supervisor dos serviços de informações dos EUA afirmou esta terça-feira que as agências de espionagem norte-americanas sempre procuraram saber as intenções dos líderes estrangeiros, mas sem confirmar as escutas à chanceler alemã, Angela Merkel.
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James Clapper, que supervisiona as 16 agências de espionagem dos EUA, afirmou que procurar discernir os objetivos dos chefes de Estado estrangeiros tem sido um "princípio básico" das agências de espionagem norte-americanas.
"Desde que estou na atividade de informações, já há 50 anos, que as intenções das lideranças, seja qual for a forma pela qual se expressam, é um princípio básico do que quer que seja que obtenhamos e analisamos", disse Clapper à comissão de Informações da Câmara dos Representantes.
"É incalculável para nós saber para onde os países vão, quais são as suas políticas, como é que nos podem afetar numa série de questões", adiantou Clapper.
Este dirigente acrescentou inclusive que "não são apenas os líderes, é o que está à sua volta e as políticas que querem para os seus governos".
As revelações de um antigo subcontratado pelos serviços de informações, Edward Snowden, publicadas na imprensa, indicam que a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em Inglês), intercetou as comunicações de dúzias de líderes estrangeiros, entre as quais Merkel.
As revelações criaram uma onda de indignação na Alemanha e através da Europa, com relatos contraditórios sobre se o Presidente norte-americano, Barack Obama, tinha aprovado as escutas.
Questionado pelo presidente do comissão, Mike Rogers, se seria correto considerar se "a melhor forma" de determinar os planos de um líder estrangeiro era "aproximar-se dele ou obter as suas comunicações", Clapper respondeu: "Sim, seria."
Da mesma maneira, quando inquirido se os aliados dos EUA fizeram espionagem contra os EUA, Clapper respondeu: "Absolutamente."
Entretanto, em declarações à mesma comissão, o diretor da NSA, Keith Alexander, desmentiu categoricamente, sob juramento, as acusações recentes de interceção das comunicações na Europa, afirmando que, pelo contrário, foram os serviços de espionagem europeus que lhes forneceram estas informações.
As revelações dos diários francês Le Monde, espanhol El Mundo e italiano L'Espresso sobre a interceção de comunicações de cidadãos europeus pela NSA são "completamente falsas", assegurou Alexander.
"Para ser perfeitamente claro, não recolhemos essas informações sobre os cidadãos europeus", afirmou, precisando que se trata de "dados fornecidos à NSA" pelos seus parceiros europeus,
O "Le Monde" e o "El Mundo" publicaram nos últimos dias, baseados em documentos fornecidos por Snowden, que a agência norte-americana encarregada das interceções das comunicações tinha espiado mais de 70 milhões de comunicações telefónicas em França e 60 milhões em Espanha no espaço de um mês.
Por seu lado, o italiano "L'Espresso", citando o jornalista Glenn Greenwald, na origem das revelações de Edward Snowden, afirmou que os italianos foram espiados pelos serviços norte-americanos e britânicos.
"Eles não compreenderam, tal como a pessoa que roubou a informação classificada, o que tinham diante dos olhos", garantiu o diretor da NSA, confirmando entretanto as revelações do "Wall Street Journal", divulgadas no início de terça-feira, de que as interceções telefónicas feitas nestes países e atribuídas à NSA tinham sido feitas pelos serviços secretos europeus, que depois as forneceram à agência norte-americana.