Biden promete consagrar direito se democratas obtiverem uma vitória no Congresso. Tema é fator decisivo para eleitores norte-americanos.
Corpo do artigo
"Se querem proteger o direito a uma mulher de decidir por si mesma, então devem ir votar", apelou Joe Biden, presidente dos EUA, durante um comício em Washington. A interrupção voluntária da gravidez tem sido um dos temas em destaque na campanha dos democratas, de modo a descredibilizar os republicanos, que saudaram a revogação da lei federal Roe V. Wade, em junho deste ano. De acordo com uma pesquisa da Kaiser Family Foundation, a estratégia estará a resultar, já que, aliada à inflação e à guerra na Ucrânia, a questão do aborto é um dos fatores que mais irá impulsionar a participação dos norte-americanos nas eleições intercalares de terça-feira.
Segundo a pesquisa da organização sem fins lucrativos, a decisão do Supremo Tribunal, que colocou fim ao direito ao aborto e levou a que vários estados adotassem leis mais restritas, 50% dos inquiridos mostram-se motivados em participar no escrutínio e apontam o tema como principal impulsionador.
Pelo menos metade dos participantes mostram-se ainda mais interessados em votar nas próximas eleições intercalares, em comparação com as últimas, que ocorreram em 2018. A principal preocupação apresentada pelos republicanos é a economia, enquanto os eleitores democratas apontam o aborto como fator-decisivo.
Polarização política
Ainda assim, para Rui Henrique Santos, politólogo da Universidade Nova de Lisboa, a questão do aborto "motivará democratas e republicanos a participarem, já que, para os dois campos, mais do que uma mera política pública de saúde, estão em confronto o direito à liberdade individual e o direito à vida".
Ao JN, o especialista em estudos de política norte-americana relembra que este tema "marca a polarização política dos EUA e aqui tem consequências locais e diárias, pois exemplifica dois tipos de abordagem perante a democracia e a sua vivência, e que neste momento são intratáveis entre os dois partidos".
Nos últimos meses, Joe Biden tem tentado mobilizar os norte-americanos em torno do direito à interrupção voluntária da gravidez, prometendo consagrá-lo numa lei federal se os democratas alcançarem uma vitória no Congresso. O chefe de Estado está a apostar na indignação provocada pela revogação do Supremo Tribunal para conquistar votos da Esquerda e do centro.
O líder da Casa Branca tem apelado aos cidadãos que elejam mais democratas para o Senado e para a Câmara dos Representantes, comprometendo-se a que a primeira legislação a enviar ao Congresso "será para codificar Roe V. Wade", prometeu, num discurso em outubro.
Os republicanos, por sua vez, têm optado por afastar a questão do aborto. Apesar de ter felicitado a decisão do Supremo Tribunal, em junho, Donald Trump raramente voltou a falar do tema nos discursos que tem proferido para tentar obter mais votos para os republicanos, optando por focar-se nas críticas ao plano económico de Joe Biden.
Nas eleições, estão em questão todos os 435 lugares da Câmara dos Representantes, 35 dos 100 lugares do Senado e 36 lugares de governadores de estados e três de territórios. O escrutínio pode ser fulcral na determinação do desfecho das presidenciais de 2024, nas quais se espera um regresso de Donald Trump.