França lidera conjunto de dez países que quer ver esta opção na lista de fontes limpas da União Europeia. Alemanha é contra a sua utilização desde 2011 e quer eliminá-la até 2030.
Corpo do artigo
A discussão sobre a utilização de energia nuclear como meio para atingir a neutralidade de carbono tem estado bastante ativa e não pára de dividir opiniões. Se por um lado países como a Bélgica, a Alemanha, a Espanha e a Suíça se preparam para a eliminação progressiva da energia nuclear até 2030, outras nações como a França, a Finlândia ou a Polónia têm pedido à União Europeia a integração da energia nuclear na lista de energias verdes e sustentáveis.
Mas será a energia nuclear realmente uma solução para evitar que a temperatura global suba mais do que 1,5º Celsius? Entre os especialistas ouvidos pelo JN sobre esta matéria, as opiniões dividem-se, ainda que ninguém defenda, inteiramente, este modo de produção de energia.
Considerar a energia nuclear como alternativa "é um discurso errado", defende o ambientalista Francisco Ferreira, presidente da Zero - Associação Sistema Terrestre Sustentável. Não só "por ser muito mais cara do que as outras energias renováveis, devido ao investimento no reforço da segurança", mas também por causa dos resíduos tóxicos". "Não tem sentido nenhum, é uma energia perigosa que tem um risco no seu funcionamento", destaca o também especialista em Clima da universidade Nova.
A energia nuclear continua a ser um tema sensível, alerta Filipe Duarte Santos, especialista em alterações climáticas. "Muitos países não aceitam a energia nuclear pelos riscos que têm. Mas em termos de emissões de gases de efeito de estufa, são certamente melhores", assevera o presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável. Ainda assim, acrescenta que será difícil que esta alternativa seja incluída na lista de energias limpas. Desde logo, porque não é renovável.
Não resolve tudo
A pressão para que o nuclear seja tido em conta como forma de acelerar o caminho para a redução das emissões tem sido feita não só pelos países a favor, como também por líderes sindicais de toda a Europa. "A COP26 [cimeira do clima a decorrer em Glasgow] é uma oportunidade para os decisores políticos escolherem energia sem emissões, bons empregos e prosperidade sustentável. Isto significa escolher a energia nuclear como parte de um sistema energético equilibrado", afirmaram, numa carta, os líderes de vários sindicatos, como o britânico GMB, a confederação francesa CFE-CGC Energias ou o Conselho Canadiano dos Trabalhadores Nucleares.
Também a Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa (UNECE) destacou a importância da energia nuclear para atingir as metas da redução das emissões de CO2, lembrando que esta energia pode contribuir para atingir a neutralidade de carbono e ajudar a mitigar as mudanças climáticas.
"A energia nuclear é parte da solução para o aquecimento global. Não é uma panaceia, pode não ser para todos, mas já fornece mais de 25% da energia limpa", afirmou Rafael Mariano Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), durante a COP26.
O responsável recordou que depois do acidente nuclear de 2011 na central nuclear japonesa de Fukushima, houve uma relutância crescente, mas agora "a situação mudou", garante.
COP26
"Falta de urgência" da China e Rússia
O antigo presidente dos Estados Unidos Barack Obama lamentou, ontem, em Glasgow, a ausência de líderes de países como a China e a Rússia na COP26 (cimeira do clima das Nações Unidas) e a "perigosa falta de urgência" em combater as alterações climáticas.
Promessas não estão a ter efeito
Obama mostrou-se "particularmente desanimado" com a recusa dos líderes de dois dos maiores emissores do Mundo, China e Rússia, em comparecer no processo". Por outro lado, apelou a um maior envolvimento e "liderança" da Indonésia, da África do Sul e do Brasil, vincando: "Não podemos permitir que alguém fique à margem".