A Europa prepara medidas mais restritivas para tentar conter a covid-19. Numa altura em que o número de casos já supera o pior registo do início da pandemia, os governos querem achatar a "segunda bossa do camelo" a tempo de salvar o Natal.
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A metáfora da bossa do camelo, como uma segunda curva, serve de mote a uma espécie de conto de Natal, em que os governos de vários países se afadigam na preparação e implementação de medidas para travar a covid-19 e salvar a época natalícia, a festa por excelência das reuniões de famílias na Europa ocidental.
Dois dias depois de Portugal ter entrado em situação de contingência, regredindo em relação ao que estava em vigor, o primeiro-ministro, António Costa, convocou o gabinete de crise. Após quase dois meses, voltam a reunir, esta sexta-feira, tendo como pano de fundo o aumento de casos em Portugal, que na quinta-feira chegou aos 770 em 24 horas, o oitavo pior registo desde que começou a pandemia, recuando para números do pico da covid-19, em finais de março e início de abril.
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Em França, tal como em Inglaterra, o governo de Macron prepara novas medias, que podem levar a restrições em grandes cidades. O "frugal" governo holandês também já está a desenhar novas medidas para controlar a chegada da segunda vaga, que parece ter entrado em força na República Checa, que está a registar números piores do que na primeira vaga, na qual aquele país ficou conhecido por implementar o uso obrigatório de máscara na rua, registando poucos casos.
Israel deve entrar em confinamento esta sexta-feira, tornando-se o primeiro país rico a implantar um parar pela segunda vez, ao passo que em Espanha se começam a estabelecer confinamentos locais, destinados a travar a epidemia em alguns bairros da capital espanhola, Madrid, o maior foco de covid-19 na Europa, atualmente.
O Governo regional de Madrid a prepara medidas draconianas para travar a infeção, quando o número de casos por 100 mil habitantes chegou aos 659 na capital espanhola, estimando-se que nas zonas mais pobres possa ser o dobro.
Segundo dados do Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC, na sigla original), o número de casos por 100 mil habitantes em Espanha subiu para 260, bem acima dos 90 em França e dos cerca de 60, em média, no Reino Unido.
"Temos de ser duros agora para salvar o Natal", argumentou o primeiro-ministro Boris Johnson. "É preciso parar o surto, parar a segunda bossa do camelo, achatar a segunda bossa", acrescentou, em entrevista ao ao tabloide britânico "The Sun", na quinta-feira, quando foram anunciadas novas restrições no nordeste da Inglaterra.
As medidas anunciadas afetam perto de dois milhões de pessoas residentes no nordeste da Inglaterra, onde o número de casos subiu para mais de 70 por 100 mil habitantes, e em Sunderland chegou aos 103.
Números elevados, tendo em conta que o Governo britânico usa o rácio de 20 por 100 mil habitantes para determinar que países são seguros para viajar, o que levou a excluir Portugal do corredor aéreo no início de setembro.
As novas infeções estão a aumentar no Reino Unido, o país com mais mortes na Europa, 41.705, segundo os dados mais recentes. Um estudo da universidade Imperial College publicado na semana passada sobre os níveis de infeção em Inglaterra indicou que o número de casos tem estado a duplicar todos os sete a oito dias desde 22 de agosto.
O número de casos diários ultrapassou a marca de três mil em vários dias e chegou a perto de quatro mil na quarta-feira, mais de metade do valor registado durante o pico da pandemia no Reino Unido, em abril, embora este seja também o resultado de estarem a ser feitos mais testes.
O Governo britânico já tinha apertado as restrições esta semana, limitando os ajuntamentos em espaços interiores ou exteriores a seis pessoas, com exceção de escolas, locais de trabalho e prática de desportos.
Em cidades como Sunderland ou Newcastle, será proibido o convívio entre pessoas de diferentes agregados, bares e restaurantes terão apenas serviço à mesa e devem encerrar entre as 22 horas e as 5 horas, disse o ministro da Saúde, Matt Hancock, numa declaração na Câmara dos Comuns.
Esta sexta-feira, Hancock admitiu que as medidas que agora vigoram no noroeste de Inglaterra possam estender-se a todo o território do Reino Unido, o país com o maior número de mortos na Europa e o quinto a nível mundial, atrás dos EUA, Brasil, Índia e México.
"Faremos o que for necessário para garantir a segurança dos cidadãos, mas a primeira linha de defesa é respeitar as regras de distanciamento social", disse à emissora pública BBC.
O ministro disse que, como uma segunda "linha de defesa" está o sistema de deteção e rastreamento de contágio, depois do qual vêm os confinamentos localizados, como o que hoje vigora em partes do nordeste da Inglaterra, e, finalmente, "medidas nacionais", como as aplicadas entre março e maio.
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"Não quero que isso aconteça", e para evitá-lo é importante que "as pessoas se unam e reconheçam que estamos diante de um desafio sério", afirmou.
Segundo a BBC, o Executivo britânico está a avaliar a imposição de novas restrições em toda a Inglaterra na próxima semana, que incluiriam o encerramento de bares e restaurantes, mas mantendo escolas e locais de trabalho abertos, devido ao aumento exponencial de infeções nos últimos dias.
O jornal Financial Times adianta que uma hipótese sugerida por cientistas que aconselham o governo é decretar um confinamento mais curto para coincidir com as férias escolares intercalares da última semana de outubro, limitando assim o impacto no ensino.
Boris Johnson reiterou querer evitar um segundo confinamento a nível nacional devido ao impacto devastador para a economia e também prometeu aumentar a capacidade de testagem e de atendimento dos serviços de saúde, algo que é criticado pela oposição.