Alinhada com EUA e Reino Unido, Europa está a preparar-se para impor castigo sem precedentes à economia russa. Mas a UE também pode sofrer.
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A União Europeia negociou secretamente "uma série de sanções sem precedentes" para atingir a Rússia se o seu presidente, Vladimir Putin, decidir invadir a Ucrânia. A lista de represálias foi preparada em absoluto sigilo. A notícia é avançada pelo jornal espanhol "El País", que cita fontes diplomáticas da União Europeia. As retaliações seriam adotadas "quase imediatamente e com o pleno acordo dos EUA e do Reino Unido".
Este é o maior avanço notado até agora da parte do Ocidente em resposta ao envio da Rússia de um contingente de cerca de 100 mil soldados e armamento pesado para junto da fronteira russa com a Ucrânia. Enquanto o resto do Mundo suspeita de uma invasão iminente, a Rússia diz que as suas tropas, ali estacionadas desde o final do ano passado, estão somente a realizar exercícios militares.
Reunião secreta amanhã
As punições europeias à Rússia são de caráter económico. E são violentas. Vão desde a suspensão de qualquer tipo de cooperação económica com Moscovo, até um corte drástico nas relações comerciais, incluindo inevitavelmente deixar de comprar petróleo e gás russos. Atualmente, a Europa importa da Rússia 26% das suas necessidades de petróleo e 40% das suas demandas de gás natural. A solução seria importar gás liquefeito de outros países e suprir as outras carências com energias renováveis.
O golpe contra a Rússia seria de tal magnitude que, segundo as mesmas fontes, a União Europeia também já preparou planos de contingência para mitigar os danos que, forçosamente, a economia europeia iria sofrer.
Ainda segundo o "El País", este plano inédito de sanções em grande escala será discutido amanhã durante um almoço à porta fechada entre os ministros europeus das Relações Exteriores, em Bruxelas, sob a presidência de Josep Borrell, alto-representante da UE para a política externa. A reunião contará com a presença, por videoconferência, de Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA, país presidido pelo democrata Joe Biden.
Este será o maior desafio de segurança enfrentado pela Europa desde o fim da Guerra Fria, apontam todos os analistas. Aqui, "a participação de Blinken demonstra a estreita coordenação entre os aliados e a unidade da comunidade internacional face à atitude da Rússia", refere uma fonte europeia, citada pelo "El País".
O objetivo da reunião de segunda-feira ainda "não é adotar sanções específicas, mas estabelecer os cenários e as reações que cada um deles provocaria", diz outra fonte diplomática.
Objetivo: isolar Rússia
Entre as medidas gizadas estão o fecho total dos mercados de capitais europeus a empresas e instituições financeiras russas e restrições à exportação de materiais ou serviços essenciais para setores-chave da economia russa, como energia, mineração ou indústrias pesadas.
O congelamento de laços financeiros do Ocidente com a economia russa deixaria o país de Putin isolado do mercado financeiro mundial. Os EUA, adianta o jornal espanhol, estariam até dispostos a cortar o acesso da Rússia ao sistema SWIFT de transações financeiras, o sistema eletrónico que processa a maioria das transferências bancárias. A medida é praticamente inédita nos tempos atuais e só foi aplicada ao Irão.
UE preparada, diz Ursula
"Esta relação comercial é importante para nós, mas é muito mais importante para a Rússia", disse esta semana Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, no Fórum de Davos. "Esperamos que não haja ataque, mas se houver, estamos preparados", alertou.
A UE é o maior parceiro comercial da Rússia e destino de 38% das suas exportações. O mercado russo, por outro lado, absorve só 4,1% das exportações europeias. Atualmente, a Europa é o maior investidor internacional na Rússia, acumulando um portfólio superior a 300 mil milhões de euros.