O ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane avançou com a constituição do partido Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo (Anamalala), conforme requerimento entregue esta quinta-feira no Ministério da Justiça, em Maputo, pelo seu assessor.
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"Tem um prazo legal que é o mínimo de 30 dias, máximo de 60, e esperamos que possamos voltar a convidar a imprensa para anunciar que o partido já está autorizado pelas entidades públicas para fazer o seu trabalho", declarou o assessor político de Venâncio Mondlane, Dinis Tivane, à saída do Ministério de Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, onde submeteu o pedido.
Anamalala é uma expressão da língua local macua, da província de Nampula, no norte de Moçambique, com o significado de "vai acabar" ou "acabou", usada pelo antigo candidato presidencial Venâncio Mondlane durante a sua campanha eleitoral e que igualmente se popularizou durante os protestos por si convocados de contestação dos resultados das eleições gerais de 9 de outubro.
“Era uma das questões que não se calava. Havia até um burburinho em relação ao caminho político que eventualmente o engenheiro Venâncio daria, surgiram fofocas de regresso a um determinado partido ou da coligação, ou outras, mas nós trabalhávamos de forma tranquila e serena”, disse ainda Dinis Tivane, afastando a eventual possibilidade de Mondlane regressar a um dos partidos de que foi membro.
O novo partido de Venâncio Mondlane, explicou o seu assessor político, vai ser liberal, guiando-se pelos princípios da democracia, legalidade, patriotismo e paz.
Venâncio Mondlane, 51 anos, foi candidato presidencial suportado pelo partido Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos) nas últimas eleições gerais, do qual se desvinculou após acusar a liderança do partido - que até às eleições não tinha qualquer eleito parlamentar e que após esta associação passou a ser o maior da oposição - de “traição” face à tomada de posse dos deputados no parlamento.
Antes, Mondlane tinha-se juntado à Coligação Aliança Democrática (CAD), chumbada pelo Conselho Constitucional em julho do ano passado por não reunir requisitos legais. O político também foi membro da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) desde 2018, mas abandonou a formação após não ter conseguido concorrer à liderança do então maior partido da oposição no congresso de maio de 2024.
No seu percurso político, foi igualmente membro do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), formação que abandonou para se juntar à Renamo.
Em declarações aos jornalistas, o assessor político de Mondlane afastou um eventual indeferimento do pedido de registo do novo partido face aos processos abertos pelo Ministério Público contra o ex-candidato presidencial, após liderar protestos pós-eleitorais em Moçambique.
“Venâncio Mondlane não é responsável por nenhuma destruição, porque em nenhum momento saiu da boca dele que amanhã é dia de destruir”, disse Tivane, assegurando que foram preenchidos os requisitos legais para formalizar o pedido para a constituição do partido.
“Nós preenchemos esses preceitos e o resultado que tem que acontecer é esse. Agora, se existir uma contaminação em relação à fofoca de que Venâncio Mondlane é responsável, porque há um sítio que ardeu num dia que ele convocou manifestações, aí estaria a cometer erro tremendo”, acrescentou.
Moçambique vive desde outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por Venâncio Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais de 9 de outubro, que deram vitória a Daniel Chapo.
Desde outubro, mais de 360 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, de acordo com a Plataforma Decide, uma organização não-governamental moçambicana que acompanha os processos eleitorais.
O Governo moçambicano confirmou pelo menos 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias durante as manifestações.