Ex-chefe da guerrilha de Dilma diz que protestos representam uma "mudança de época"
O politólogo António Roberto Espinosa, que militou ao lado da presidente brasileira Dilma Rousseff contra a ditadura militar do país, afirmou que os atuais protestos em cidades brasileiras constituem uma "mudança de época".
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"As manifestações representam a necessidade de um novo pacto social" porque a "juventude não assinou o contrato, e não é obrigada a aceitar o mundo como o recebeu ", disse Espinosa.
Para o especialista em Ciências Políticas e professor de Política Internacional e de Relações Internacionais, os protestos são "positivos" e "necessários".
Espinosa considerou que as manifestações no Brasil estão ligadas às que foram feitas pelo mundo, como a Primavera Árabe, o Occupy Wall Street ou os indignados espanhóis. "Nesse ponto, é parecido com o ano de 1968, quando um movimento de conflito de gerações assumiu as suas características (próprias) em cada país, com uma aparente indefinição de agenda", disse.
Segundo o politólogo, a insatisfação geral fortalece diversas tendências políticas, de esquerda ou de direita, e pode realçar características como a xenofobia e o racismo.
Espinosa acrescentou que as manifestações têm um ciclo e que, após seu apogeu, sofrem um "inevitável" esvaziamento. No entanto, afirma, a tendência mundial é caminhar para uma democracia participativa, mas em longo prazo, dentro dos próximos dois séculos.
O professor é ex-comandante da organização armada VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares), na qual também militou a presidente Dilma Rousseff, que se opôs à ditadura militar brasileira (1964-1985).
O principal motivo das manifestações no Brasil, disse Espinosa, é a exclusão social, principalmente da juventude, em meio ao desenvolvimento económico e à automação dos processos.
"A juventude está formulando as questões, não as respostas. As forças organizadas, as elites e os partidos é que vão dar essa resposta, e esse é o paradoxo", afirmou.
Segundo Espinosa, os partidos políticos brasileiros estão superados em suas agendas, e a solução para aumentar o contentamento da população passa pela diminuição da jornada de trabalho e da garantia de uma renda básica a todos os cidadãos.