O ex-cirurgião Joël Le Scouarnec, julgado por violar e agredir sexualmente 299 pessoas, a maioria com menos de 15 anos, admitiu responsabilidade no suicídio de duas das vítimas esta terça-feira, durante o julgamento que decorre em França.
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Joel Le Scouarnec, de 74 anos, está acusado de 111 violações e 189 agressões sexuais numa dúzia de hospitais no oeste de França, num dos maiores casos de abuso sexual de menores do país. O julgamento, que começou a 24 de fevereiro, tem o veredito marcado para 28 de maio, tendo o arguido admitido culpa pelos crimes cometidos entre 1989 e 2014.
O ex-cirurgião admitiu ter abusado sexualmente de todas as 299 vítimas, muitas delas enquanto estavam sob anestesia ou a acordar depois de operações, entre 1989 e 2014.
Le Scouarnec afirmou ainda em tribunal, esta terça-feira, com a voz a tremer de emoção, que era "responsável" pelas mortes de Mathis Vinet, que morreu de overdose em 2021, no que a sua família diz ter sido um suicídio, e outro rapaz, cujo nome não será divulgado a pedido da família, encontrado enforcado dentro de casa em 2020. "Eles morreram. Eu sou responsável", admitiu o arguido ao ser questionado se "às vezes" pensa nas vítimas.
O ex-cirurgião abusou sexualmente dos dois menores no hospital de Quimperlé quando eles tinham 10 e 12 anos, respetivamente.
"Vê-se como um homem livre no futuro?" perguntou a juíza Aude Buresi neste último interrogatório. "Não", respondeu o arguido. "Não", repetiu com mais firmeza após um silêncio. "A prisão foi uma libertação para mim", afirmou Le Scouarnec, que explicou no tribunal que já não é vítima de "tendências" pedófilas, sem descartar o risco de uma recaída.
"Você é e sempre será um pedófilo", atirou Francesca Satta, uma das advogadas das vítimas, durante as alegações finais.
Abusou de um bebé e de duas sobrinhas
A idade média das 299 vítimas era de 11 anos, mas entre os muitos atos atribuídos ao médico estão a violação de um bebé de um ano e a agressão sexual a uma paciente de 70 anos.
O processo começou meses depois de outro julgamento "incomum" que chocou a França e o Mundo: as violações em série de Gisèle Pelicot, pelas quais 51 homens foram condenados.
O ex-cirurgião já se encontra preso após ter sido condenado em dezembro de 2020 a 15 anos por violação e abuso sexual de quatro crianças, incluindo duas sobrinhas.
Le Scouarnec exerceu durante décadas até se reformar em 2017, apesar de ter sido condenado em 2005 por posse de imagens de abuso sexual de crianças.