Novas imagens mostram que, antes de ser escoltado do congresso do Partido Comunista Chinês, em Pequim, o ex-presidente da China Hu Jintao estava a discutir sobre documentos oficiais numa pasta vermelha à sua frente.
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Num raro momento em frente às câmaras, o ex-presidente chinês Hu Jintao foi, na semana passada, subitamente retirado da cerimónia de encerramento do 20.º congresso do Partido Comunista Chinês (PCC).
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Hu, de 79 anos, está sentado numa posição de destaque, ao lado do seu sucessor, o atual líder Xi Jinping, quando é abordado por dois seguranças. O ex-presidente parece argumentar brevemente com um dos seguranças. Hu levanta-se e fala durante cerca de 30 segundos com os dois homens, parecendo relutante em sair. É depois escoltado, com um dos seguranças a agarrá-lo pelo braço. Antes de sair, Hu parece dizer algo a Xi Jinping e dá um toque amigável no ombro do primeiro-ministro, Li Keqiang.
Agora, novas imagens divulgadas pelo "Channel News Asia", dois dias depois do incidente, mostram o que aconteceu cerca de um minuto antes de os seguranças se aproximarem de Hu para o escoltarem.
No vídeo, Li Zhanshu, presidente do Comité Permanente do Congresso Nacional do Povo da China, que estava sentado ao lado de Hu, tira um documento das mãos do ex-presidente e volta a colocá-lo sob uma capa vermelha como as que estão na frente de todos os outros líderes, enquanto fala com Hu. Inicialmente, Li Zhanshu deixa os papéis na frente do ex-líder, que parece confuso. Depois, aparentemente preocupado que Hu tente tirar o documento novamente, Li puxa a pilha de papéis para si e mantém a mão sobre eles.
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Do outro lado de Hu, Xi Jinping olha para a lateral do palco e um segurança aproxima-se, falando com ele brevemente antes de se afastar. Li continua a conversar com Hu, enquanto Xi olha passivamente para a frente. De seguida, o mesmo segurança puxa Hu da cadeira e escolta-o para fora do palco.
Problemas de saúde ou uma mensagem política?
A agência de notícias estatal chinesa Xinhua informou que a saída inesperada de Hu se deveu a problemas de saúde. "Hu Jintao insistiu em participar da sessão de encerramento (...), mas, durante a sessão, não se sentiu bem e a sua equipa, para bem da sua saúde, acompanhou-o até uma sala adjacente, para que pudesse descansar", escreveu a agência oficial. "Agora está a sentir-se muito melhor".
Há muito que se especula que Hu está a sofrer de problemas de saúde, disse Alfred Wu Muluan, especialista em política chinesa da Universidade Nacional de Singapura, em declarações à AFP. Segundo Wu Muluan, o ex-líder já parecia "ter algum tipo de sintomas semelhantes aos de Parkinson" em 2012, quando entregou as rédeas do poder a Xi Jinping.
O mandato de Hu, que ocupou a presidência entre 2003 e 2013, foi visto como um período de abertura ao estrangeiro e de maior tolerância a novas ideias. Os Jogos Olímpicos de Pequim em 2008 foram um pico de exposição internacional.
No entanto, essa linha semi-oficial fez pouco para reprimir a especulação do que parecia uma remoção forçada. O incidente não foi transmitido na China e o nome de Hu foi apagado da internet interna, dentro da grande firewall do país. O nome do filho de Hu, Hu Haifeng, também foi bloqueado pelos censores chineses, levantando dúvidas sobre se houve algum tipo de disputa de alto nível sobre a sua posição dentro do PCC.
Especialistas consideraram que o momento inesperado pretendia enviar um forte sinal político para aqueles que se opõem a Xi. O mandato de Hu foi visto como um período de maior tolerância a diferentes fações políticas dentro do Partido Comunista e uma maior abertura ao mundo. A saída de Hu "deve ser lida em conjunto com as críticas contundentes da era Hu, conforme descrito no relatório do 20.º Congresso do Partido por Xi", disse Henry Gao, da Universidade de Administração de Singapura. "Dado o quão cuidadosamente coreografado é o Congresso do Partido, não é coincidência que isso tenha sido visto na frente de todos os delegados do partido e dos média".
"A forma como Hu foi basicamente arrastado para fora do Grande Salão do Povo é uma forma de dizer, sem ambiguidade, que esta nova era não tem espaço para ninguém afiliado à era Jiang-Hu", rematou William Sima, especialista em questões da China da Universidade Nacional Australiana.

