O ex-presidente da Guiné-Bissau Henrique Rosa condenou, esta sexta-feira, a atuação dos militares no país, mas disse que não o surpreendeu, pois tinham já denunciado o que se estava a passar com a presença de militares angolanos.
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"Aquilo que se está a passar com os militares é de condenar. Nós devemos privilegiar sempre o diálogo", disse à Lusa Henrique Rosa, em contacto telefónico, adiantando que participou há cerca de três semanas numa reunião, convocada pelo presidente da República interino, com a presença de todas as forças vivas do país, na qual os militares fizeram uma denúncia clara e direta do que se estava a passar com a presença da missão de conselheiros militares angolanos (Missang) na Guiné-Bissau.
Para Henrique Rosa, um dos cinco candidatos às presidenciais de 18 de março que pediram a anulação da primeira volta votação, esse "grito de socorro, de alerta" sobre os militares angolanos era já um sinal de perigo.
"Pensei que a partir daí se iniciasse um diálogo para que se estabelecessem pontes para a resolução do problema, mas o que está a acontecer (mostra) que esses canais não foram estabelecidos", disse à agência Lusa.
Relativamente a uma possível colagem da contestação eleitoral com a ação militar em curso, Henrique Rosa afirma que se trata de "um aproveitamento que alguém está a querer fazer.
"Há 'lobbies' a funcionar, que estão a querer fazer (essa colagem)" referiu, esclarecendo que poderão acontecer atos de violência na Guiné-Bissau, não por via da contestação eleitoral, mas pela presença dos militares angolanos.
Nas declarações à Lusa, Henrique Rosa considerou ainda "mais grave" a estigmatização que se está a tentar fazer da etnia balanta, maioritária nas forças armadas e a que pertence Kumba Ialá, o segundo candidato mais votado nas presidenciais que já anunciou a recusa em participar na segunda volta.
"Só as pessoas incautas é que falam assim. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.", sustentou.