Um tribunal alemão condenou a uma pena suspensa de dois anos uma ex-secretária nazi, que trabalhava para um comandante do campo de concentração de Stutthof, por cumplicidade no assassinato de mais de dez mil pessoas, durante a Segunda Guerra Mundial.
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Irmgard Furchner, que foi considerada culpada por ajudar em 10.505 mortes, começou a ser julgada em setembro de 2021 no Tribunal de Itzehoe, no norte da Alemanha. A ex-secretária tentou escapar do julgamento, fugindo do lar de idosos onde vive, mas foi encontrada horas mais tarde.
De acordo com a acusação, a mulher trabalhou no escritório de um comandante afeto ao regime de Hitler, entre junho de 1943 e abril de 1945, quando tinha 18 ou 19 anos. E, como era adolescente quando os seus crimes foram cometidos, foi julgada num tribunal especial de menores.
Durante o julgamento, a acusada nunca falou, exceto na última audiência, quando lamentou os factos, de acordo com a BBC.
"Lamento muito o que aconteceu. Lamento ter estado em Stutthof nessa altura. É tudo o que posso dizer".
Vários sobreviventes do campo de Stutthof fizeram relatos dolorosos do sofrimento vivido em cativeiro durante o julgamento.
Os advogados de defesa pediram a absolvição de Irmgard Furchner, alegando que as teses apresentadas não tinham sido provadas, e que nada garantia em absoluto que a antiga secretária tivesse conhecimento dos assasssinatos cometidos em Stutthof.
No entanto, a acusação disse aos juízes que o trabalho da mulher "garantiu o bom andamento do campo" e deu-lhe "o conhecimento de todas as ocorrências e eventos em Stutthof".
Significado histórico
Maxi Wantzen, membro do Ministério Público alemão, pediu uma pena suspensa por dois anos. "Este julgamento é de grande importância histórica", considerou Wantzen, acrescentando que foi "potencialmente, devido à passagem do tempo, o último do seu tipo".
Estima-se que cerca de 65 mil pessoas tenham sido mortas em Stutthof, entre prisioneiros judeus, membros da resistência polaca e prisioneiros de guerra soviéticos.
Embora as péssimas condições do campo e o trabalho duro tenham ceifado o maior número de vidas, os nazis também operavam câmaras de gás e instalações de fuzilamento para exterminar centenas de pessoas consideradas "fisicamente mais fracas" para o trabalho.
Casos julgados mais tarde
Setenta e sete anos depois, o tempo está a esgotar-se para levar à justiça criminosos ligados ao Holocausto.
Nos últimos anos, vários casos foram abandonados porque o acusado morreu ou porque ficou fisicamente incapaz de ser julgado.
Em 2011, a condenação do ex-guarda John Demjanjuk, com base no facto de ter servido como parte da máquina de matar de Hitler, estabeleceu um precedente legal e abriu caminho para vários julgamentos.
Desde então, os tribunais proferiram vários veredictos de culpa por esses motivos, e não por assassinatos ou atrocidades diretamente ligadas ao indivíduo acusado.
Irmgard Furchner foi a primeira mulher em décadas a ser julgada na Alemanha por crimes da era nazi.