O ex-senador brasileiro Gim Argello recebeu subornos de mais de 5,3 milhões de reais (1,3 milhões de euros) para impedir investigações às empreiteiras UTC e OAC na comissão de inquérito da Petrobras, segundo o Ministério Público.
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O ex-senador do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) foi detido preventivamente hoje, no âmbito da 28.ª fase da Operação Lava-Jato, com vista a assegurar a ordem pública e garantir que não cometa mais crimes, segundo os responsáveis pela investigação.
Os procuradores, que falaram hoje aos jornalistas, informaram que a operação de hoje teve por base as delações (divulgação de informações em troca de redução de pena) de Ricardo Pessoa e outros executivos da UTC.
A investigação revelou que os empreiteiros Ricardo Pessoa e Leo Pinheiro procuraram o ex-senador Gim Argello e que o filho do político também participou nos encontros.
Gim Argello integrou a Comissão Parlamentar de Inquérito instaurada no Senado Federal e também foi vice-presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) instaurada no Congresso Nacional.
Segundo a investigação, os partidos que receberam as doações foram o partido Democratas (DEM), o Partido da República (PR), o Partido da Mobilização Nacional (PMN) e o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB).
Estes partidos, juntamente com o PTB, formaram a coligação "União e Força", pela qual Gim Argello era candidato a novo mandato de senador, em 2014.
O pagamento de suborno foi feito não só através de doações a partidos que compunham a comissão parlamentar de investigação, mas também através do pagamento de 350 mil reais (87 mil euros) à paróquia de São Pedro do Distrito Federal, que está sob investigação.
Segundo o Ministério Público, a paróquia, frequentada pelo ex-senador, foi indicada por ele para receber a doação.
O Ministério Público Federal fez saber que não há indício de que os partidos tenham participado ou que tivessem conhecimento da origem ilícita dos recursos.
O Ministério Público está ainda a investigar pedidos de subornos dirigidos a outras empreiteiras.
Contudo, os responsáveis frisaram que esta operação não investiga outros políticos envolvidos no esquema, porque ocorreu após a separação dos processos entre quem tem foro e quem não tem.
"Travestir propina [suborno] em forma de doações legais é uma coisa que existe há muito tempo, agora vamos aprofundar-nos sobre isso", garantiu o procurador Carlos Fernando.
A Polícia Federal cumpre 22 mandados judiciais, em concreto dois de prisão temporária, um de prisão preventiva, 14 de buscas e apreensão e cinco de condução coercitiva (obrigação de prestação de depoimento).
Os detidos temporariamente são Paulo Cesar Roxo Ramos e Valério Neves Campos, ambos ligados a Gim Argello.
Foram conduzidos coercitivamente Jorge Argello Júnior, filho do ex-senador Gim Argello, Roberto Zardi Ferreira Jorge, Gustavo Nunes da Silva Rocha, Dilson de Cerqueira Paiva Filho e Marcos Paulo Ramalho.
A sede da empreiteira OAS, em São Paulo, é um dos alvos das buscas.
A Operação Lava Jato investiga um mega-esquema de corrupção que envolve várias empresas, incluindo a petrolífera Petrobras.