A ex-analista de informação no Iraque Chelsea Manning, presa por estar na origem do maior roubo de documentos secretos da história norte-americana, quebrou este domingo o silêncio para acusar Washington de continuar a mentir sobre o Iraque.
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"Enquanto o Iraque entra em guerra civil e os Estados Unidos ponderam uma intervenção, esta obra inacabada traz uma nova urgência na resposta à questão de como é que o exército dos Estados Unidos controla a cobertura mediática sobre o seu compromisso de longa data tanto lá, como no Afeganistão", sublinhou Manning.
Chelsea Manning, anteriormente chamada de Bradley Manning, foi condenada a cumprir 35 anos de prisão por um tribunal marcial como pena por ter roubado 700 mil documentos confidenciais.
As declarações da ex-analista de informação no Iraque chegam através de uma crónica publicada este domingo no jornal "New York Times" intitulado "A nublada máquina de guerra".
"Acredito que os limites atuais da liberdade de imprensa e o pesado véu do secretismo governamental previnem que os americanos saibam plenamente o que se passa nas guerras que eles próprios financiam", escreve a ex-soldado na crónica.
"Eu sei que pelos meus atos, violei a lei. No entanto, as preocupações que me guiaram, não estão ainda resolvidas", acrescenta Manning, detida no Fort Leavenworth, no Kansas.
Manning, que adotou oficialmente o primeiro nome Chelsea e exige beneficiar de um tratamento hormonal para mudar de sexo, foi declarada culpada, em outubro de 2013, de ter feito chegar ao site WikiLeaks centenas de milhares de documentos diplomáticos e militares, que o site entretanto publicou.
Ao mesmo tempo que o presidente norte-americano Barack Obama anunciou esta semana estar a estudar "todas as opções" para prevenir o avanço dos jihadistas no Iraque, a ex-analista critica "um acesso eviscerado da opinião pública americana aos factos, deixando-a sem meios para avaliar a conduta dos seus dirigentes".
Mannig recordou a apresentação das eleições de 2010 no Iraque, então descrita como um "sucesso", para explicar que "aqueles que estavam na altura no país tinham consciência que a realidade era mais complexa" do que a que foi apresentada oficialmente.
"Fiquei chocada com a cumplicidade do nosso exército na corrupção das eleições. Esses detalhes profundamente chocantes desapareceram dos radares da comunicação social norte-americana", acusou.
Por outro lado, questiona como é que os altos decisores podem dizer que a opinião pública e até mesmo o Congresso apoiam o conflito quando eles não conhecem a maior parte das informações.
Apontou que, enquanto esteve no Iraque, nunca viu mais de uma dúzia de jornalistas acreditados simultaneamente no país para uma população de 31 milhões de habitantes e 117 mil soldados americanos.