Fragmentação política espelha descontentamento em momento de deterioração da economia do país. A população mostra-se vacilante.
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Indecisão foi a palavra de ordem nos dias que antecederam as eleições presidenciais que se realizam hoje na Costa Rica. Com 25 candidatos na corrida, o país, um dos mais progressistas da América Latina, encontra-se fragilizado pela pandemia e consumido pela liderança dos últimos quatro anos, pondo agora à prova a democracia sólida que o sustenta.
Com um recorde histórico de candidatos, nenhum parece ser consensual. Como tal, explica Raquel de Caria Patrício, doutora em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília,é "altamente provável que as eleições cheguem à segunda volta", que irá colocar frente a frente os dois candidatos mais votados na primeira.
Para que o presidente seja eleito para os quatro anos seguintes é necessário que reúna pelo menos 40% dos votos, mas para já, de acordo com as sondagens, nenhum dos candidatos apresenta 20% das intenções de voto, espelhando um país duramente fragmentado politicamente, o que poderá ter consequências na reconstrução de uma nação que nos últimos anos enfrentou vários desafios económicos. O resultado da votação, que poderá ser apenas conhecido a 3 de abril, irá ainda desvendar quem serão os 57 deputados que se vão sentar da assembleia unicameral do país.
Entre os nomes mais sonantes, estão o ex-presidente centrista José María Figueres, do Partido Libertação Nacional (PLN), que lidera as intenções de voto com 15% de preferências. De seguida, surge o nome da ex-vice-presidente conservadora Lisbeth Saborío, do Partido Unidade Social Cristã (PUSC), com 13,3%. Em terceiro lugar, vem Fabricio Alvarada, do Partido Nova República (PNR), que disputou as eleições com o atual presidente, Carlos Alvarado Quesada, com 11,1% das intenções de voto.
Segundo um inquérito divulgado pelo Centro de Investigação e Estudos Políticos (CIEP), dos 3,5 milhões de eleitores, 31% estavam indecisos a menos de uma semana do dia da decisão.
As eleições ocorrem numa altura em que a Costa Rica observa um elevado número de contágios por covid-19, o que poderá contribuir para o aumento da taxa de abstenção. Descontentes com o rumo da liderança de Carlos Quesada, atual presidente que é líder de um sistema presidencialista unitário, os costa-riquenhos mostram-se preocupados com o desemprego e a corrupção que ensombram a estabilidade da democracia.
O país, orgulhosamente conhecido como um dos países mais felizes da região, registou, em 2021, uma taxa de pobreza que ultrapassou os 23%, o que pode justificar "o mal-estar social, manifestado em diferentes ondas de protestos, a que a pandemia apenas veio reforçar", remata Raquel de Caria Patrício.
As eleições na Costa Rica são as primeiras a realizar-se na região da América Latina em 2022, um ano que ficará marcado pela realização de outros escrutínios importantes. O próximo ocorrerá na Colômbia em maio, mas o mais esperado irá acontecer em outubro no Brasil.