A expulsão dos ciganos de França esteve, esta semana, na origem de uma dura troca de palavras entre Paris e Bruxelas, numa altura em que Nicolas Sarkozy corre pela presidência do G-20. O Governo francês critica o que diz ser a ingerência da Comissão Europeia nos seus assuntos internos, que comparou as expulsões às deportações levadas a cabo pelos nazis na Segunda Guerra.
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“Em termos de imagem, mesmo legal, a França terá de sofrer”. Este foi o cenário traçado por Jean-Dominique Giuliani, presidente da Fundação Robert Schuman, especializado em questões europeias.
Para Giuliani, as referências aos ciganos romenos e búlgaros já não podem ser vistas apenas no âmbito nacional, mas sim como “valores fundamentais da Europa”.
A Comissão Europeia ameaçou, ontem, terça-feira, processar a França por incumprimento da legislação comunitária e classificou de “vergonhosa” a atitude de Paris, comparando as expulsões dos ciganos com as deportações da Segunda Guerra Mundial.
As relações entre Paris e Bruxelas voltam, uma vez mais, a complicar-se. As disputas entre o Governo francês e a Comissão fizeram já correr muita tinta no passado, designadamente por questões relacionadas com os défices públicos, o proteccionismo económico e a política industrial.
Pierre Lellouche, secretário de Estado dos Assuntos Europeus francês, nega a Bruxelas o direito de interferir nos assuntos de França, um país “soberano”. Jean-François Cope, líder dos deputados da Union pour un Mouvement Populaire (UMP), acusou a Europa de protagonizar um “ processo sistemático de intenções” contra Paris “com um segundo plano político”.
No Parlamento Europeu, a reputação da França não é das melhores na ala esquerda liberal.
Repatriamentos não são a única questão de atrito
Entre os países da União Europeia (UE), embora o assunto se esconda num silêncio diplomático, a Roménia já não é a única questão crítica. O presidente austríaco emitiu, terça-feira, reservas sobre a atitude da França.
Nos bastidores, o assunto deverá ser debatido pelos líderes europeus, amanhã, quinta-feira, em Bruxelas, onde Nicolas Sarkozi e o presidente da Comissão, José Manuel Barroso, vão reunir-se.
A relação entre o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Bernard Kouchner, e a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, já viveu melhores dias. O motivo remonta às negociações de paz entre Israel e os palestinianos.
Com todos estes acontecimentos, o caminho do Governo francês até à presidência do G-20 não será feito sem espinhos. Sarkozi pretende garantir apoios através das prioridades da Europa: a reforma do sistema monetário internacional, a luta contra a volatilidade cambial e a regulação financeira.