Partido União Nacional alcançou resultados históricos em ciclo eleitoral e passa a ter 89 assentos no Parlamento.
Corpo do artigo
Foi durante a ocupação nazi, no seguimento da Segunda Guerra, que a França teve o primeiro e único Governo de extrema-direita. Décadas depois, a ideologia tem conquistado cada vez mais adeptos. Num ano marcado por um ciclo político de eleições presidenciais e legislativas, Marine Le Pen, rosto do principal partido de extrema-direita, o União Nacional, alcançou resultados históricos que ensombram a liderança de Emmanuel Macron.
Desde 1974, ano em que Jean-Marie Le Pen fundou o então Frente Nacional, que a extrema-direita tem vindo a ganhar fôlego na sociedade gaulesa. Ao herdar o partido político do pai, Marine Le Pen iniciou uma nova caminhada em 2012, quando se apresentou a votos pela primeira vez nas presidenciais, contudo, não conseguiu chegar à segunda volta.
Dez anos mais tarde, fez História em dois momentos diferentes. Primeiramente, nas presidenciais de abril, conseguindo o resultado mais alto das suas três candidaturas, ao obter 41,45% dos votos na segunda volta. A segunda conquista ocorreu dois meses depois quando, nas legislativas, o partido conseguiu sentar 89 deputados na Assembleia Nacional - aumentando em dez vezes o número de lugares no Parlamento.
"Recurso alternativo"
Aliada a uma estratégia que passa pela apresentação de propostas de melhoria de qualidade de vida, que lhe garantiram a simpatia do público, a advogada de 53 anos viu a sua influência crescer através de um "resultado de vários elementos", refere Sandra Fernandes, especialista em Relações Internacionais, reiterando que "a população francesa está desiludida e optou por um caminho que representa um recurso alternativo".
Na base da ascensão da União Nacional, "um partido com tradição fascista e ideias não liberais", descreve Sandra Fernandes, está um eleitorado que se posiciona "entre os 35 e 49 anos e que viu o poder de compra ser encurtado".
A investigadora explica, por outro lado, que a "normalização da extrema-direita", também contribuiu para o crescimento do partido de Le Pen, que beneficiou ainda de uma "derrocada" do Partido Socialista (PS). "Esta situação fez com que o eleitorado do PS fosse para outros partidos, inclusive para o União Nacional", assinala.
Num artigo de opinião no jornal norte-americano "The Washington Post", publicado no final de junho, também a jornalista francesa Rokhaya Diallo destaca que este avanço se deve "a uma clara rejeição de Macron", frisando que o cansaço da população fez com que votassem "em qualquer candidato menos no líder do partido Renascimento".
Para os próximos cinco anos, esperam-se grandes desafios para Macron, já que Le Pen, além de contar com mais de 80 assentos, tem dois deputados na vice-presidência da Assembleia Nacional.
Outros casos
Portugal
Com uma ideologia baseada na Direita radical e no conservadorismo nacional, o Chega, fundado em 2019, é o partido de extrema-direita que mais impacto teve em Portugal. Liderado por André Ventura, que antes pertencia ao PSD, o partido conseguiu, nas eleições legislativas deste ano, aumentar o número de assentos parlamentares para 12.
Espanha
No país vizinho, a ideologia é representada pelo VOX, criado, em 2013, por antigos militantes do Partido Popular (Centro-direita). Atualmente, o partido liderado por Santiago Abascal conta com 52 deputados no Congresso espanhol, tendo-se demarcado por assumir uma posição pró-vida na questão do aborto e por ser contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Itália
Após a união de vários pequenos partidos, em 1991, foi fundado o Liga. Conta com 124 deputados na Câmara dos Deputados e, desde 2013, com a eleição de Matteo Salvini como líder, o partido assumiu uma transformação ideológica adotando um discurso mais populista.