Líderes dos 27 reúnem-se, quinta-feira, com Volodymyr Zelensky, num Conselho Europeu especial convocado por António Costa para discutir a "Defesa europeia" e a situação na Ucrânia. Bruxelas tenta criar um plano de rearmamento do Velho Continente enquanto enfrenta resistências internas em relação ao apoio a Kiev.
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Um dos temas na mesa será o plano lançado esta terça-feira pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que quer mobilizar 800 mil milhões de euros para investimento na Defesa. Um dos pontos do plano propõe menor rigor nas regras relativas ao défice público dos países, permitindo que os membros do bloco comunitário gastem, na prática, 1,5% do PIB na área da Defesa durante quatro anos.
Além disso, a proposta inclui um mecanismo de 150 mil milhões em empréstimos para Estados-membros voluntários que queiram investir na Defesa. Um terceiro ponto é redestinar os fundos de coesão, usados para o desenvolvimento sustentável dos países mais desfavorecidos da União Europeia (UE).
As últimas duas propostas do plano, detalha a agência France-Presse, incluem fundos que facilitariam o acesso de empresas a capitais e a retirada de restrições aos investimentos na área da Defesa pelo Banco Europeu de Investimento. "A Europa enfrenta um perigo claro e presente a uma escala que nenhum de nós viu na nossa vida adulta", argumentou von der Leyen.
O presidente do Conselho Europeu espera que o bloco contribua nas garantias de segurança pedidas pela Ucrânia. "A UE e os seus Estados-membros estão prontos para assumir mais responsabilidade pela segurança europeia", disse António Costa, no dia 27 de fevereiro.
Costa recebeu, no entanto, uma carta do primeiro-ministro húngaro, no sábado, a salientar "diferenças estratégicas na abordagem [de Budapeste] à Ucrânia que não podem ser ultrapassadas". "Estou convencido de que a União Europeia - seguindo o exemplo dos Estados Unidos - deve entrar em negociações diretas com a Rússia sobre um cessar-fogo e uma paz sustentável na Ucrânia", ressaltou Viktor Orbán, citado pela agência Reuters. “Portanto, proponho não tentar adotar conclusões escritas sobre a Ucrânia", sugeriu o chefe de Governo da Hungria.
De acordo com o portal Politico, o rascunho do texto, na noite de terça-feira, pedia que os ministros encontrassem maneiras de assegurar o envio de armamento e destacava que a UE "continuará a prestar à Ucrânia apoio financeiro regular e previsível". O mesmo órgão de Comunicação Social menciona a expectativa de oficiais de que o envio de 1,5 milhões de cartuchos de munições de artilharia - anunciado no último mês pela chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas - esteja presente na declaração conjunta.
Eslováquia quer gás russo
A recusa de Budapeste em relação ao texto final não deve ser a única durante o encontro em Bruxelas, com Bratislava a sublinhar que, "se a cimeira não respeitar que existem outras opções para além da simples continuação da guerra, o Conselho Europeu poderá não conseguir chegar a acordo sobre conclusões relativas à Ucrânia na quinta-feira". Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, afirmou que "a Eslováquia respeita a necessidade de aumentar as capacidades defensivas da Europa".
Num comunicado publicado no dia seguinte à discussão de Zelensky e Donald Trump na Sala Oval, Fico disse "ter reservas sobre a estratégia de 'paz através da força'" e que deseja que as conversações durante o Conselho Europeu resultem num apelo a um "cessar-fogo imediato". O líder eslovaco cortou qualquer ajuda financeira ou militar à Ucrânia - apesar de o envio de armamento do arsenal da Eslováquia ter sido encerrado quando Fico chegou ao poder, em 2023, a venda de armas até então continuava.
Tendo encontrado Vladimir Putin, em dezembro, devido ao fim do fornecimento de gás russo que era transportado através da Ucrânia, o chefe de Governo de Bratislava pediu a volta do trânsito do combustível fóssil russo através do território ucraniano. "É impossível assegurar a competitividade da Europa se o fornecimento de gás russo através da Ucrânia não for restaurado", escreveu Fico.