A exumação de Francisco Franco, que dirigiu Espanha com mão de ferro até à sua morte em 1975, decorreu, esta quinta-feira, no mausoléu do Vale dos Caídos.
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"O processo de exumação do túmulo de Francisco Franco começou", anunciaram os serviços do presidente do governo, Pedro Sánchez. Os trabalhos começaram minutos depois da hora inicialmente prevista, 10.30 horas (9.30 horas em Portugal continental).
O governo espanhol recordou à família do ditador que durante o processo de exumação do corpo não está permitido o uso de bandeiras ou outros símbolos. O aviso ocorreu depois de um dos netos, Francis Franco, ter chegado ao Vale dos Caídos com a bandeira anterior à Constituição espanhola de 1977.
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As bandeiras que forem exibidas durante a exumação ou durante a trasladação do corpo para o cemitério de Mingorrubio-El Pardo vão ser retiradas do local pelas autoridades. No entanto, o governo não se opõe se a família quiser usar algum símbolo no interior do panteão de Mingorrubio, em âmbito privado.
Os familiares de Franco, na maioria netos e bisnetos, acompanhados das autoridades espanholas e do advogado da família, Luís Felipe Utrera-Molina, entraram na Basílica do Vale dos Caídos dez minutos antes do início dos procedimentos para a exumação.
No interior do templo estiveram os operários que extraíram a lápide que cobre a tumba de Franco, assim como um médico de medicina legal, a ministra da Justiça, Dolores Delgado, e membros do Ministério da Presidência.
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Todos os presentes foram submetidos a uma inspeção de deteção de metais para evitar a entrada de qualquer dispositivo de gravação.
Durante a exumação estiveram presentes dois netos de Franco, José Cristobal e Merry Martínez-Bordiú, sendo que depois os restantes familiares se juntaram numa cerimónia religiosa. O caixão saiu do templo aos ombros dos netos Francis, Jaime e Cristobal e do bisneto Luís Alfonso de Bórbon.
O caixão está tapado por um pano de cor castanha no qual está pendurado o escudo pessoal que Franco usava como chefe de Estado além de uma bandeira espanhola e uma coroa de flores com uma fita em que se lê: "A Tua Família".
No momento em que o caixão foi colocado no carro funerário ouviram-se os gritos "Viva Espanha" e "Viva Franco".
Exumação para evitar que o mausoléu possa continuar a ser "lugar de apologia" do franquismo
Francis Martínez-Bordiú, um outro neto, acompanha o caixão transportado de helicóptero para o cemitério de Mingorrubio.
No Vale dos Caídos, monumento construído pela ditadura em homenagem aos nacionalistas tombados na Guerra Civil de Espanha (1936-1939), estava a ministra da Justiça do governo, em funções, Dolores Delgado. A ministra exerceu as funções de notária do Reino de Espanha durante a exumação dos restos mortais do ditador.
No local encontram-se também o secretário-geral da presidência do governo, Félix Bolaños, e o subsecretário da presidência, António Hidalgo.
Na Basílica não estão autorizadas câmaras de televisão e ao adro só podem aceder os profissionais da televisão pública TVE assim como da agência de notícias oficial EFE.
Pedro Sánchez fez da exumação de Franco uma prioridade desde a sua chegada ao poder em junho de 2018, com o objetivo de evitar que o mausoléu onde está sepultado, que não tem equivalente em qualquer outro país da Europa ocidental, possa continuar a ser "lugar de apologia" do franquismo.
Prometida para o verão de 2018, a exumação foi adiada mais de um ano devido a recursos sucessivos na justiça por parte dos descendentes do ditador.
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