Família ucraniana de Truskavets, na região de Lviv, no oeste da Ucrânia, estava prepada para o dia da invasão russa. As mulheres e as crianças estavam prontas a sair, mas os homens queriam ficar e proteger a terra.
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Tetiana Stebelska tem uma mochila preparada com documentação em dia para uma fuga de emergência de Truskavets, na região de Lviv, no oeste da Ucrânia, onde vive com a mãe, o marido e os dois filhos, de 12 e nove anos. As mulheres e as crianças estão preparadas para sair em caso de uma invasão russa, mas os homens "querem ficar e proteger a terra".
"O mais viável é fugirmos para a Polónia, porque estamos perto da fronteira, ou para Portugal, onde vive a minha irmã", diz, sem se atrapalhar com a incerteza que lhe invade a vida. "Vivemos há oito anos em guerra. Estamos habituados", garante, descrevendo que, apesar do alerta permanente e da preocupação, ninguém em Truskavets "está a correr para os supermercados". Vive-se com a normalidade possível: "Continuamos com uma vida sem pânico, as crianças vão à escola e nós, os adultos, continuamos a trabalhar".
"É claro que estamos todos muito ansiosos e preocupados, mas somos um povo com esperança e de fé", diz, na conversa via "WhatsApp" com o JN. Tetiana Stebelska, de 38 anos, mantém o otimismo, confessando rezar todos os dias pela tranquilidade.
Os ucranianos, explica, aguardam que a anexação das regiões separatistas "aconteça oficialmente". A concretizar-se a tomada das regiões separatistas de Donetsk e Lugansk, na província do Donbass , Tetiana é perentória: "A Ucrânia está pronta para combater e defender o território. Por enquanto, estamos a preparar-nos para a guerra, a aguardar, de espírito levantado", acrescenta.
Parte significativa da população ucraniana, incluindo "velhinhas, crianças, mulheres e homens", recebem treino militar da autoridade local de cada região para "defender o país" em caso de ataque russo. "Estamos preparados se formos atacados, os homens estão prontos a defender o país e a família", assegura Tetiana, proprietária de uma escola de línguas.
Uma realidade pouco descansada, mas ainda assim muito diferente da tensão que o primo enfrenta diariamente, no leste do país. "Treina todos os dias com armas... Comprou-as para se defender, defender a família, e sobretudo, defender a Ucrânia", conta.
Por causa da tensão crescente, muitos ucranianos do leste do país mudaram de casa e de terra nas últimas semanas. "Os preços das casas aqui têm subido muito à conta do êxodo de pessoas do leste para outras partes do país", contextualiza.
De política, Tetiana diz perceber "francamente pouco". Mas sempre vai dizendo que a Ucrânia tem direito a viver livremente e ser aceite como membro na NATO. "Nunca se sabe o que possa vir de Putin, um dia diz uma coisa, outro dia, outra coisa, não sabemos o que esperar", conclui.