FAO pede intervenção "de grande envergadura" para fazer face à tragédia alimentar
A FAO pediu esta sexta-feira uma intervenção "de grande envergadura" para fazer face à tragédia alimentar que assola o Corno de África, dois dias após o estado de fome ter sido declarado em mais três regiões do sul da Somália.
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Em comunicado, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) alerta que a crise alimentar que atinge a Somália, sobretudo o sul, ameaça alastra-se e afectar toda a região meridional daquele país, onde já se vive uma "situação de emergência humanitária que já vitimou milhares de pessoas".
"A fome alastrar-se-á a todas as regiões do sul [da Somália] nas próximas quatro a seis semanas e, provavelmente, durará até Dezembro de 2011", alerta a FAO.
A organização da ONU insta por isso a comunidade internacional a actuar "de forma imediata" para salvar as vidas e os meios de subsistência de milhões de pessoas na região.
A fome paira sobre Quénia, Etiópia, Djibuti, o norte do Uganda e possivelmente a Eritreia, mas a Somália é o país mais afectado por esta crise humanitária. A seca que se vive actualmente no Corno de África, a pior dos últimos 60 anos, já provocou dezenas de milhares de mortos e ameaça mais de 12 milhões de vidas em toda a região.
Só na Somália, segundo a FAO, cerca de 3,7 milhões de pessoas estão em situação de crise alimentar, enquanto que outros 3,2 milhões (2,8 milhões no sul do país) precisam de ajuda imediata para sobreviverem.
O novo apelo da FAO surge dias após este organismo ter anunciado que mais três regiões da Somália (as zonas de Balcad e Cadale, na região do Médio Shabelle, o corredor de Afgoye e partes da capital Mogadíscio) apresentavam altos índices de desnutrição e mortalidade. Em Julho, a ONU já tinha decretado uma crise de fome nas regiões de Bakool e no Baixo Shabelle, no sul da Somália.
Cerca de mil milhões de dólares foram já prometidos pela comunidade internacional para responder ao problema, mas a ONU "precisa urgentemente de mais 1,4 mil milhões de dólares para salvar vidas", anunciou na terça-feira a chefe das operações humanitárias das Nações Unidas, Valerie Amos.
Entretanto a China garantiu hoje que "acompanha de perto" a situação, depois de o governo de Pequim ter sido criticado e instado a ser mais generoso por vários parceiros internacionais.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês anunciou hoje ter disponibilizado 90 milhões de yuans (cera de 9,9 milhões de euros) em ajuda alimentar para enfrentar a crise no Corno de África, já descrita pela ONU como a mais grave crise humanitária no mundo actual e a pior crise de segurança alimentar desde a fome de 1991-1992 na Somália.
A China fora criticada na terça-feira pela chefe da minoria democrata na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos: "Podemos começar por ajudar as organizações que correm riscos para fornecer alimentos, cuidados e ajuda humanitária aos mais vulneráveis. Outros membros da comunidade internacional, incluindo a China e a Arábia Saudita, devem fazer mais esforços", afirmou Nancy Pelosi.
Em finais de Julho, o delegado do governo alemão para os assuntos africanos, acusou a China de ser co-responsável pela crise. Gunter Nooke lembrou que os investidores chineses compraram terras em larga escala em África, tendo assim retirado a base de existência a milhares de pequenos agricultores na região.