O "fiasco" das autoestradas com portagem em Espanha, especialmente as "radiais" está a causar um grave problema às concessionárias que já acumularam um 'buraco' orçamental de 3.800 milhões de euros.
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De acordo com uma notícia avançada esta segunda-feira pelo jornal "El País", nove das concessionárias estão já à beira da falência, por não conseguirem cumprir sequer os juros de dívidas que contraíram e o Governo espanhol está, por isso, a estudar "fórmulas de resgate" para evitar o fecho.
As notícias surgem numa altura em que o Governo regional de Madrid está a estudar a possibilidade de introduzir portagens em autoestradas atualmente sem esse custo como medida para reduzir o défice das contas regionais.
A informação, citada pelo "El País", está em documentos do próprio Ministério do Fomento espanhol que refere que as nove empresas concessionárias obtiveram em 2010 um lucro de exploração total de 49,5 milhões de euros.
Esse valor não é sequer suficiente para pagar os juros das dívidas, pelo que Madrid está a estudar eventuais soluções apenas dois anos depois do Estado ter já dado um empréstimo "vantajoso" para que pudessem continuar a sua atividade.
Caso avance qualquer solução estatal, este não seria o primeiro resgate de autoestradas em Espanha já que entre 1980 e 1983 o Estado teve que intervir em três concessões, fundando a Empresa Nacional de Autoestradas de Portagem (ENA) que só foi privatizada 20 anos depois.
O jornal refere-se, em particular, à situação atual das radiais de Madrid (R2, R3, R4 e R5), à autoestrada com portagem até ao aeroporto de Madrid, a que liga Ocaãa a La Roda e à de Alicante-Cartagena-Vera.
Projetos do segundo Governo de José María Aznar e que, segundo o "El País", "não cumpriram nem uma das suas previsões".
É o caso da R3 e R5, em Madrid, segundo José Antonio López Casas, diretor geral de Accesos de Madrid, a empresa que gere as duas autoestradas.
"Houve sobrecustos nas obras e nas expropriações. Tinha que ser feito um investimento de 640 milhões, mas acabou em 1.500. Além disso, o tráfego só alcançou os 35% do previsto", explicou.
Dos 40 mil veículos que se previa que poderiam utilizar a R3 apenas o fazem 13 mil e as receitas por portagens são apenas 22 milhões (menos de metade do estimado), segundo López Casas que se refere ainda a uma dívida de 666 milhões de euros com 40 bancos.
A R4 e AP36, controladas pela Ferrovial, somam uma dívida de mil milhões de euros com 20 bancos, sofrendo com menos 70% de tráfego do que o previsto.
O Ministério do Fomento admite já que duas das autoestradas "não são viáveis nem a curto nem a longo prazo", nomeadamente a Madrid-Toledo (em concurso de credores desde maio) e a que liga ao Terminal 4 do aeroporto Barajas em Madrid.
Esta tem uma dívida de 227 milhões e receitas de apenas 4,7 milhões.
A contribuir para o caos das autoestradas estão quer a falta de receitas quer o elevado custo das expropriações, que chegaram a disparar 600%.
Um dos exemplos é a R2 onde estavam previstos custos de expropriação de 40 milhões de euros que depois dispararam para mais de 430 milhões de euros.