Pedro Ivo Carvalho, editor-executivo-adjunto, escreve sobre como, em 12 anos, há coisas que não mudaram em Cuba. Sobre a figura omnipresente de Fidel. E sobre um vendedor de livros de Havana.
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"Então, viste o Fidel?" Não, não vi. Foi assim há 12 anos, na primeira vez que estive em Cuba. Foi assim há duas semanas, quando regressei após nova viagem. "Então, viste o Fidel?" Não, não vi. Embora, na verdade, ele se eleve, particularmente em Havana, como uma figura omnipresente. Está em todo o lado, mesmo quando não está. Nas frases crepitantes dos cartazes, nas t-shirts expostas loja sim, loja não, na imensa bibliografia nos escaparates públicos, nos discursos inflamados dos cubanos "puros". Como os charutos, bandeira flamejante da revolução cubana, arma decadente do capitalismo americano. Encontrei Osvaldo numa tarde quente e chuvosa, quando tirava a lona da sua montra de livros numa praça de Havana. Conversamos longamente. Sobre o país, sobre Fidel, sobre a felicidade e a música. E sobre a pobreza e a carência. Sobre um mundo que não tem só duas cores. E ele explicou-me tudo com uma simplicidade arrebatadora: "Estás a ver este livro aqui?" E apontou para "The bridge" (a ponte), de David Remnick, uma biografia de Barack Obama. "Sim", respondi-lhe. "E estás a ver este aqui ao lado?" Era uma biografia sem autor de Fidel Castro, intitulada "History will absolve me" (A História absolver-me-á). E então? Queres o quê com isto? "Quando Obama morrer, os Estados Unidos ficam. Quando Fidel morrer, Cuba também continua". E sorriu com soberba. Osvaldo estava apenas a dizer-me o óbvio: os cubanos não renegam o passado, mas sonham muito com o futuro.